Gentil Martins: As ‘anomalias’, os ‘desvios’ e os ‘estupores morais’ e os ‘sadomasoquistas’…

Gentil Martins deu uma entrevista ao Expresso em que aborda o tema da homossexualidade e as barrigas de aluguer que veio agitar as já turbulentas águas sociais neste cálido estio enxertando uma desnecessária uma polémica sobre aquilo que são, hoje, direitos dos cidadãos link.
 
Não vou debruçar-me sobre a gravidade deontológica das declarações produzidas, entendidas como originárias de um conhecido médico, já que o bastonário da Ordem dos Médicos apressou-se – e bem – a sublinhar o distanciamento das afirmações proferidas, separando um eventual laudo médico de uma constitucionalmente consagrada liberdade de expressão que todos os cidadãos auferem e devem exercer link.
Mais, o facto de a imprensa anunciar a abertura de um inquérito no seio da sua Ordem profissional faz com que deixe as questões deontológicas para serem dirimidas em sede própria link.
 
Todavia, o longo percurso de vida de Gentil Martins, enquanto cidadão, não deixará de estar sob os holofotes da opinião pública na análise do conteúdo da entrevista concedida ao Expresso.
 
Quando se afirma “sou completamente contra os homossexuais, lamento imenso…” esta afirmação seguida de uma apendicular lamúria é de uma gravidade extrema. Mais, quando Gentil Martins afirma que “a homossexualidade é uma anomalia, um desvio de personalidade…’ sabe que está a chocar de frente com a OMS que, há 27 anos (não foi ontem), retirou a homossexualidade da lista de doenças mentais.
 
Mas o problema é outro. Gentil Martins, ou qualquer outro profissional qualificado, não pode usar a sua competência e diferenciação técnica – por mais apurada e prestigiosa que seja - para ditar sentenças de índole moralista , eivadas de um bacoco fundamentalismo judaico-cristão. Sob pena de estar a usurpar o mister e funções de uma ‘santa da Ladeira’.
 
A homofobia - é disso que se trata - é no presente uma situação contemplada no código Penal (artº. 240) como crime, não comtempla só as atitudes como também os sentimentos. Este artigo do CP abrange quem “… em reunião pública, por escrito destinado a divulgação ou através de qualquer meio de comunicação social ou sistema informático destinado à divulgação”.
 
Um homem como Gentil Martins deveria estar atento a estes pormenores e abster-se de ditar sentenças sobre comportamentos individuais ou de grupo, para não cair na alçada da Lei que pune as discriminações (racial, religiosa ou sexual).
 
O Dr. Gentil Martins é um reincidente nestes terrenos ético-sociais já que, em 2007, quando estava em discussão a IVG ‘irradiou’, de modo sumário, os(as) colegas que defendessem o sim no referendo da seguinte forma: “ …para mim são licenciados em medicina, não são médicoslink.
 
Ninguém pede ao Dr. Gentil Martins que seja ‘politicamente correto’ mas quer a sua longa experiência de vida, quer o delicado momento em que a Direita, conservadora, devota e ultramontana, chafurda o ambiente, esperneando sobre os valores ‘tradicionais’, deveriam obstar a que enveredasse na senda lançar ao desbarato anátemas sobre cidadãos que livremente fizeram as suas escolhas pessoais. Ao fazê-lo cola-se a estes epítetos.
Mais, as considerações sobre as opções do celebrado futebolista português quanto a paternidade (classificando-o de ‘estupor morallink) revelam um elitismo pedante, prosaico e grotesco. A tirada sobre a educação que a mãe do futebolista lhe terá dado, ou proporcionado, não se fica pelo mau gosto. É atrevida, abusiva e insultuosa.
 
O Dr. Gentil Martins resolveu a desbaratar na praça pública o prestígio de uma longa carreira profissional debitando inusitados ataques sobre aquilo que a Humanidade deve universalmente preservar. Isto é, a sua livre diversidade, sem peias discriminativas, nem balizas (homo)fóbicas. A dignidade inerente às livres escolhas não pode estar condicionada por pias congeminações ou sacras convicções. Passar da contestação do ‘politicamente correto’ a arauto de um dogmatismo de sacristia não é um bom caminho. Pelo meio corre o risco de perder a dignidade e enxovalhar a Humanidade.
 
Gentil Martins resolveu travestir-se de um paroquial Torquemada e proporcionar um lamentável e degradante espectáculo público. Se existe (ou se deseja) um paralelismo entre este passo e o sadomasoquismo e mutilações que insinua é fácil encontrá-lo na leitura da ‘infeliz’ entrevista…
 
Na verdade, é hoje ponto assente que a homossexualidade não é uma doença. Quanto à homofobia é, pelo menos, um crime…

Comentários

soudocontra disse…
Deixei agora mesmo este vosso post no meu facebook com o seguinte comentário:
Exactamente, concordo em absoluto com o seguinte texto do blogue PONTEEUROPA!
Penso que este dito emérito médico Gentil Martins, provou ser um ser humano que não merece o respeito dos outros seres humanos, pois a sua "imensa sabedoria", como dizem, e experiência (87anos) não lhe fez ver a evidência, ou seja, que os homossexuais já nascem assim, foi a Natureza que os fez assim - quer dizer se tipos como esse Gentil (de merda) Martins tivessem filhos homossexuais matavam-nos, não? Que aberração - porque motivos será que tem esta posição? Será religioso?
E obrigado
MCTorres

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