Os fogos e a piromania

As mortes, independentemente do número, são uma tragédia para quem fica, o luto que resiste ao tempo, a memória sofrida que aflige os vivos na razão direta do sofrimento de quem sente a falta das vítimas.

A tragédia de Pedrógão Grande devia merecer o silêncio que o luto exige e o recato que a dor impõe. Os fogos lavram ainda e não se sabe quantas mais vítimas podem juntar-se às que já pereceram.

Há certamente consequências políticas a tirar e responsabilidades a apurar, mas o ruído mediático que não deixa os cadáveres em paz, na vertigem partidária capaz de rivalizar com os animais necrófagos, atinge as raias da obscenidade.

O Expresso pensou atingir a glória com o rol completo da necrologia, e ainda descobriu uma morte mais, por atropelamento, que logo atribuiu à fuga do referido incêndio, com um título tendencioso e de falsas insinuações, a revelar a decadência ética do semanário.

A direita, que responsabiliza o Governo pelas mortes, na ânsia de regressar ao poder que perdeu nas eleições legislativas, instila o medo e não se dá conta de que a esquerda, por respeito aos mortos, a poupa, calando a pertença partidária dos autarcas das populações mais sofreram.

Próximo de eleições autárquicas, convém esquecer que os municípios são os principais responsáveis pelos planos diretores municipais e ordenamento urbano, e pela obrigação de exigirem a limpeza das florestas, aplicando coimas aos desleixados.
 
A direita continua, à falta do Diabo, a servir-se do Inferno dos fogos na mórbida volúpia da morte, que denuncia a sofreguidão do poder.

Esta direita fede.

Comentários

O Marquês de Pombal,há quase 250 anos,após o terramoto de Lisboa,disse o óbvio: enterremos os mortos e cuidemos dos vivos!!! Três séculos depois não teremos essa clarividência?

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