A Altice e o ensaio de altos voos…
Ainda sobre o ‘debate do Estado da Nação’ e na necessária digestão dos seus conteúdos entende-se agora o que António Costa quis dizer sobre a PT e o que adivinha no horizonte.
O Primeiro-Ministro afirmou em resposta a uma interpelação do PCP sobre a situação dos trabalhadores na ex-PT: “Receio bastante que a forma irresponsável como foi feita aquela privatização, possamos vir a ter um novo caso Cimpor e um novo desmembramento que ponha em causa não só os postos de trabalho como o futuro da empresa” link.
Passos Coelho aproveitou o comício de apresentação do candidato autárquico em Loures para regressar ao assunto: criticou a ‘admoestação pública’ do primeiro-ministro à Altice como um facto inédito e um crime ‘lesa-liberalidades’. Para carregar o quadro com tintas ainda mais negras referiu que a tirada de Costa foi uma coisa tão escabrosa que nem o Engº. Sócrates teria tido a coragem para fazê-lo… .
Na falta de outras ‘aparições’ vamos considerar que Sócrates funciona como uma espécie de ‘diabo paroquial’.
Na falta de outras ‘aparições’ vamos considerar que Sócrates funciona como uma espécie de ‘diabo paroquial’.
Pior, embalado pelo ambiente decidiu comparar Costa a Trump link. Para além de revelar fumos de insanidade analítica ou de pura maledicência, passa ainda pela tentativa de colar este governo a tudo o que é mau e execrável que possa acontecer. Uma comparação maliciosa e absurda que revela em todo o seu esplendor a dimensão da idiota perversão política que se apossou do dirigente do PSD.
Podemos começar pela ex-PT (em vésperas de ser rebatizada). Todos devemos recordar-nos da tentativa protagonizada pela PT (sob o disfarce da Taguspark), em 2010, dirigida pela ‘magistral dupla’ Bava/Granadeiro, com o apoio do BES (BESI) e de capitais angolanos (nunca esclarecidos) para comprar a TVI. Na altura, a operação abortou e restaram danos políticos relativos à suspeita de o Governo de José Sócrates, que dispunha na PT de uma ‘golden share’, estar envolvido numa operação de controlo de uma estação de televisão. O fim deste mecanismo (golden share) seria uma exigência da Troika, a que o Governo de Passos Coelho se apressou a anuir e louvar. Abriu-se, deste modo, caminho à privatização das grandes empresas públicas o programa oculto de Passos Coelho para ‘privatizar tudo’.
Os contractos de privatização negociados pelo governo de Direita, apareciam sempre despidos de qualquer proteção do interesse público (privatizou-se de acordo com a aleivosia de que os privados geriam melhor e prestavam melhores serviços) e o cumprimento de cláusulas defensivas do valor estratégico das empresas eram vagas figuras de retórica já que ficavam à mercê das vontades dos mercados financeiros.
O Primeiro-Ministro acabaria por evocar, a propósito da situação na PT, o ‘caso Cimpor’. Este foi, ao contrário das ridículas analogias de Passos Coelho, um outro exemplo das privatizações que, embora tenha mecanismos diferentes e um percurso anódino, conduziu - certamente - a resultados idênticos. A destruição das mais valias das grandes empresas portuguesas que se construíram durante o século XX.
A Altice vai nesta mesma direção embora prefira outros atalhos. Trata-se uma multinacional de cabo e telecomunicações com presença em França, Israel, Bélgica, EUA, Luxemburgo, Suíça, Caraíbas e Portugal que vive uma situação financeira obscura. A sua dívida perante os mercados financeiros é um enigma. O CEO da Altice, Patrick Drahi, ao comentar uma astronómica dívida de 50.000 milhões de euros link não consegue dissipar dúvidas e esconder os objetivos especulativos do fundo que administra. A soma das dívidas associada às dúvidas de transparência deve assustar qualquer cidadão. As transferências através de off shores link são a rotina desta multinacional que se vai revelando um poço sem fundo de engenharias financeiras.
Em Portugal a Altice que no quadro negocial da privatização se comprometeu a não despedir trabalhadores está a fazer jogadas atrás de jogadas – transferindo trabalhadores para ‘empresas fantasmas’ – com a finalidade de conseguir um emagrecimento forçado da empresa enquanto vão surgindo indícios da degradação dos serviços prestados. O emagrecimento da (ainda) PT/Meo em regime intensivo não é um assunto que possa ser contornado em solilóquios transformados em conferências de imprensa. O que não foi dito – e é possível prever – é que o fundo adquirente da PT, através da já falida Oi, vai desmantelar a PT para a vender a retalho e tentar obter encapotados e desmesurados lucros. Isto se o principal credor – o BNP Paribas - não arrestar os ativos como garantias de penhora.
Todo este processo decorreu sob os olhares concupiscentes de Passos Coelho. Agora, incomoda-se com a admoestação de António Costa. Julgo que os portugueses também. De facto, admoestar poderá não bastar. Não seria altura de lançar – para dar continuidade à saga de busca da transparência que se apossou do PSD - uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as privatizações (esta e as outras).
De facto a ‘admoestação’ de António Costa é mais do que isso. Passos Coelho mostra, na crítica que teceu, receios e temores sobre estes (pantanosos) terrenos onde o seu Governo se envolveu. Agora quer transformar os 'investidores' numa vaca sagrada.
O Primeiro-Ministro lançou um sério aviso à navegação. Os grandes grupos económicos e financeiros (incluindo os fundos de investimento) que vieram adquirir as grandes empresas públicas portuguesas – num ambiente de saldos - têm outros apetites. Muitos estão filados numa entrada no sector financeiro, isto é, querem acoplar aos negócios uma atividade bancária. Foi assim com a privatização dos CTT (hoje já embrenhado nessa atividade), estivemos lá próximos com a (chinesa) Fosun que andou a rondar o Novo Banco (depois de já estar no BCP) e a própria Altice que anunciou, para breve, a sua entrada na banca digital link.
O Primeiro-Ministro lançou um sério aviso à navegação. Os grandes grupos económicos e financeiros (incluindo os fundos de investimento) que vieram adquirir as grandes empresas públicas portuguesas – num ambiente de saldos - têm outros apetites. Muitos estão filados numa entrada no sector financeiro, isto é, querem acoplar aos negócios uma atividade bancária. Foi assim com a privatização dos CTT (hoje já embrenhado nessa atividade), estivemos lá próximos com a (chinesa) Fosun que andou a rondar o Novo Banco (depois de já estar no BCP) e a própria Altice que anunciou, para breve, a sua entrada na banca digital link.
Ora, não vale assobiar para o lado e indignar-se – como fez Passos Coelho – à volta de uma perversa e 'abusiva' intromissão do Estado na atividade privada das empresas. Na realidade, quando passamos do sector empresarial privado para o terreno financeiro as coisas fiam mais fino. É que todos sabemos (e já sentimos na carteira) que as ditas 'resoluções bancárias' tornaram-se – direta ou indiretamente – uma coisa pública. A ‘resolver’ pelos contribuintes…
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