A Galp, os secretários de Estado e a ética republicana

A aceitação de uma viagem pública, para ver um jogo de futebol da seleção nacional, pode ter sido uma imprudência ingénua de quem a aceitou, talvez mesmo ingenuidade política, mas não o foi certamente de quem a ofereceu.

A ética republicana é incompatível com a aceitação de almoços, e o ato dos secretários de Estado é politicamente censurável. É pena que pessoas de excecional competência técnica não tenham sensibilidade política equivalente.
Exonerados a seu pedido, é aos Tribunais que cabe decidir se há lugar a sansões penais.

Mas não deixa de me surpreender a investigação tardia de um ato público amplamente divulgado, há mais de um ano, e o conjunto de coincidências que estão a acontecer.

E surpreende-me, sobretudo, por não ter sido averiguado o suborno comprovado pelas autoridades alemãs no caso dos submarinos e a falta de desmentido do desaparecimento dos papéis, bem como o desinteresse sobre 61 mil fotocópias que Paulo Portas levou do ministério da Defesa, quando cessou funções. (Pagando-as, claro).
 
Surpreende ainda o contraste entre a vigilância às viagens dos ex-secretários de Estado e a indiferença sobre a viagem familiar ao Brasil, em jato privado, para uma estadia numa ilha paradisíaca, de um primeiro-ministro a convite do amigo que tinha negócios com o Estado. E, surpresa maior, o generoso anfitrião protagonizaria, a seguir, o escândalo da compra da Quinta da Falagueira, que um partido da oposição denunciou, com o referido PM a referir-se ao amigo, que lhe hospedara a família e lhe proporcionara a viagem em jato privado, por «conhecido»: “É uma difamação estar a pretender que por ser meu conhecido, isso à partida envolve uma participação que não é correta” – diria o PM Durão Barroso.

Se esta investigação é uma mudança de paradigma, seja bem-vinda. Se é coincidência temporal com a campanha orquestrada pela direita salazarenta contra o atual Governo, é um azar circunstancial. Mas se o atual PR viesse a comprar ações não cotadas em bolsa e as vendesse com mais-valias substanciais, sem a investigação que apurasse a licitude, era motivo de desconfiança.

A Justiça também está sob escrutínio.

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