BREXIT e o drama do paciente inglês…
O governo de Sua (britânica) Majestade vive dias difíceis e atribulados. Tendo obtido um acordo técnico com a UE sobre o BREXIT depois de largos meses de aturadas negociações seria previsível que chegasse a acalmia.
Theresa May assim o esperava. Só que o acordo conseguiu unir os Conservadores na sua rejeição, uns por motivações políticas, outros por calculismo e, finalmente, uns poucos por realismo político.
A situação política que o Reino Unido está a enfrentar assenta numa grande indecisão e uma insuportável instabilidade. Na verdade, é difícil, para os cidadãos europeus, prever uma saída para a ‘crise britânica’ que não passe por eleições antecipadas e/ou eventualmente por um segundo referendo.
Theresa May assim o esperava. Só que o acordo conseguiu unir os Conservadores na sua rejeição, uns por motivações políticas, outros por calculismo e, finalmente, uns poucos por realismo político.
A situação política que o Reino Unido está a enfrentar assenta numa grande indecisão e uma insuportável instabilidade. Na verdade, é difícil, para os cidadãos europeus, prever uma saída para a ‘crise britânica’ que não passe por eleições antecipadas e/ou eventualmente por um segundo referendo.
O BREXIT armadilhou a fleumática postura política londrina e gerou ondas de choque que atingiram prioritariamente o nº. 10 da Dowing Street mas dizem respeito a questões muito importantes para os súbitos de Sua Majestade, isto é, prenunciam o desfazer do Reino Unido.
Todavia, é preciso ter a noção que o Partido Conservador é um partido de Direita e quando tiver a noção que uma obstinação fraturante (entre hard versus soft Brexit) pode fazer perigar a continuidade no poder dos conservadores, perturbar o sistema financeiro, hipotecar o modelo económico atual, prejudicar as trocas comerciais, etc., as coisas mudam de figura.
Os ‘tories’ estão dispostos a tudo menos a fazer haraquíri. E o haraquíri seria a queda atabalhoada do Governo de Theresa May (neste momento terrivelmente mutilado), novas eleições e daí sair um eventual segundo referendo sobre o BREXIT (muito em voga nos últimos tempos). É de crer que Theresa May e os Conservadores não vão dar um passo suscetível de ‘entregar’ o Governo de mão beijada aos Trabalhistas de Jeremy Corbyn.
Boris Jonhson e o séquito antieuropeu que congregou à sua volta, sabem – tão bem como toda a gente – que um novo referendo representaria uma pesada derrota para as aspirações populistas e, no futuro, retirava-lhe 'espaço político'. Isto, apesar das pertinentes críticas ao dirigismo burocrático de Bruxelas que se tornou omnipresente, incómodo, desgastante e espezinhador de identidades nacionais legítimas e, finalmente, um escolho para a construção de uma União Europeia (dos povos).
Mais, ficou bem evidente que este atribulado processo de saída da UE poderia ter consequências inimagináveis para a sobranceria da Direita e Extrema-Direita britânica, nomeadamente, a decomposição do Reino Unido, coisa que colide frontalmente com os interesses ‘imperiais’ (‘miragens vitorianas’) alimentadas por um snobismo orgulhoso e um mal disfarçado ‘fair-play’, ambas posturas ‘very british’, mas politicamente ineficazes.
O ‘eixo Thatcher/Reagan’ que, na década de 80, permitiu alimentar um ‘chão comum’ anticomunista, e tão ferozmente impulsionou o neoliberalismo no dito Mundo Ocidental, esboroou-se, tendo sido recentemente absorvido (substituído) por uma incontrolável ‘onda populista’ que não se poupa a meios para atingir fins e nem procura saídas democráticas.
De facto, a deturpação das perspetivas, a insuflação de oníricos resultados à volta de uma ’saída libertadora’ e redentora, subsidiária da emergência de uma pacificadora harmonia social, bem como um conjunto de outras aleivosias dirimidas pela Direita, aquando da realização do referendo, estão, neste momento, em aberto conflito com a realidade.
Os problemas britânicos não se resumem, nem se esgotam e, seguramente, não se resolvem com a permanência (ou não) numa União Europeia onde, de facto, o Reino Unido sempre esteve com um pé dentro e outro de fora (Charles De Gaulle lá sabia…).
Na verdade, o que fica desta história é uma coisa muito simples: o Reino Unido pretende colher todos os benefícios de pertencer a uma ampla União mas ao mesmo tempo pretende sacudir todas as consequências, inconvenientes e constrangimentos (que os há!). Qualquer que seja o desfecho do BREXIT é esta marca que perdurará.
A atual convulsão política que ocorre na Grã-Bretanha é mais um condimento (instrumento) para sustentar e embelezar o nascente populismo que empestou as posições conservadoras, nacionalistas e de Extrema-Direita – momentaneamente conjugadas – que influenciaram o primeiro referendo transmitindo a mais de metade do eleitorado uma deturpada visão de regresso a um mirifico Eldorado, inexoravelmente desfeito pelo paulatino declínio imperial e que a globalização veio taxativamente dar a machadada final e enterrar. Todos temos presente que a decadência é difícil de engolir e, muitas vezes, provoca um frenético estrebuchar.
Na realidade, o que poderá estar a suceder é os conservadores quererem voltar a renegociar a sua saída da UE – ‘emendar a mão’ – após um descontrolado sobranceirismo (diferente de soberanismo) e procurar condições menos desfavoráveis, uma vez que se tornou nítido e evidente que o referendo foi um ‘tropeção democrático’ tecido à volta de pretensões isolacionistas e saudosistas (impossíveis de existir na ausência do ‘Império’) de uma parte do Reino Unido que – a avaliar pelas mais recentes sondagens - não resistiram durante muito tempo à usura do pragmatismo. Logo, estamos perante uma velha asserção: “muita parra e pouca uva!”.
A critica situação do Governo britânico aproxima-se de um enredo visto e celebrado no extraordinário filme ´O paciente inglês’ que, tendo enredado em conflitos amorosos e contradições sentimentais, acaba - numa tentativa desesperada de auxílio. Primeiro despenha-se no deserto e depois não chega a tempo de socorrer a sua amada (a velha Albion), mortal e passionalmente, ferida.
Comentários
Não é o naufrágio do RU que assusta, muito menos o dos conservadores e ultras, o que assusta é o naufrágio que arrasta a Europa.