Os ingleses e o Brexit
Os ingleses são capazes do melhor e do pior, de serem os primeiros a pressentir o futuro e a regressar ao passado.
Desde os tempos de João Sem-Terra e da Magna Carta, nos primórdios do século XIII, a Inglaterra esteve na vanguarda das transformações civilizacionais e da marcha para a liberdade.
John Locke publicou «Dois Tratados sobre o Governo», antes das principais obras do Iluminismo, incluindo o Contrato Social, de Rousseau, de 1762, e tinha sido nele e nas instituições inglesas que Montesquieu bebeu a teoria da Separação dos Poderes, ainda longe do racionalismo, do iluminismo e do modelo oitocentista do Estado de direito.
Aliás, Montesquieu morreu antes de conhecer as principais obras do Iluminismo, antes das revoluções francesa e norte-americana, não surpreendendo que o seu pensamento sugerisse uma sociedade de liberdade entre diferentes e não ainda a sociedade igualitária que a Revolução Francesa reclamou.
A Inglaterra, pioneira na revolução industrial, na democracia e na corrida imperialista, criou o maior império do Planeta, mas foi o primeiro país colonialista a compreender os desejos emancipalistas dos povos que subjugou.
Nas duas guerras do século XX esteve do lado certo e cometeu os piores erros ao alinhar a política externa com os EUA, já neste século, com Thatcher e Reagan, Blair e Bush e, agora, com May e Trump, desta vez a fazerem tolices diferentes, e separados.
A Inglaterra parece caminhar para o suicídio e arrasta consigo a desagregação própria e a da Europa. Não é só a maior força naval e a maior potência nuclear que fazem falta à Europa, é a tradição liberal e democrática que temperava as tropelias do outro lado do Canal da Mancha.
Nos momentos incertos que se avizinham vamos ter saudades do papel da Inglaterra na separação dos poderes, princípio constitucional da conformação do modelo democrático de Estado do mundo ocidental nos últimos dois séculos, sobretudo a partir de Inglaterra, dos EUA e da França.
O Estado Constitucional Democrático deve muito à Inglaterra, e a Sr.ª May podia ter evitado contribuir para a interrupção que se vislumbra por esta Europa onde despertam nacionalismos.
Desde os tempos de João Sem-Terra e da Magna Carta, nos primórdios do século XIII, a Inglaterra esteve na vanguarda das transformações civilizacionais e da marcha para a liberdade.
John Locke publicou «Dois Tratados sobre o Governo», antes das principais obras do Iluminismo, incluindo o Contrato Social, de Rousseau, de 1762, e tinha sido nele e nas instituições inglesas que Montesquieu bebeu a teoria da Separação dos Poderes, ainda longe do racionalismo, do iluminismo e do modelo oitocentista do Estado de direito.
Aliás, Montesquieu morreu antes de conhecer as principais obras do Iluminismo, antes das revoluções francesa e norte-americana, não surpreendendo que o seu pensamento sugerisse uma sociedade de liberdade entre diferentes e não ainda a sociedade igualitária que a Revolução Francesa reclamou.
A Inglaterra, pioneira na revolução industrial, na democracia e na corrida imperialista, criou o maior império do Planeta, mas foi o primeiro país colonialista a compreender os desejos emancipalistas dos povos que subjugou.
Nas duas guerras do século XX esteve do lado certo e cometeu os piores erros ao alinhar a política externa com os EUA, já neste século, com Thatcher e Reagan, Blair e Bush e, agora, com May e Trump, desta vez a fazerem tolices diferentes, e separados.
A Inglaterra parece caminhar para o suicídio e arrasta consigo a desagregação própria e a da Europa. Não é só a maior força naval e a maior potência nuclear que fazem falta à Europa, é a tradição liberal e democrática que temperava as tropelias do outro lado do Canal da Mancha.
Nos momentos incertos que se avizinham vamos ter saudades do papel da Inglaterra na separação dos poderes, princípio constitucional da conformação do modelo democrático de Estado do mundo ocidental nos últimos dois séculos, sobretudo a partir de Inglaterra, dos EUA e da França.
O Estado Constitucional Democrático deve muito à Inglaterra, e a Sr.ª May podia ter evitado contribuir para a interrupção que se vislumbra por esta Europa onde despertam nacionalismos.
Comentários
Esta, com a sua política anti-imigração enquanto Secretária do Interior, poderá ter primeiro contribuído para o resultado do referendo e depois, já como PM, ter sido irresponsável ao declarar que preferiria não ter acordo a um mau acordo de saída, mas emendou mais recentemente a mão.
May tem conduzido bem as negociações com o objetivo de levar até ao fim um processo em que quiçá não acredita. Todos os outros é que sonham com algo que ou não respeita a vontade democrática do povo britânico (mesmo se eu discordo dela), ou é puro irrealismo (refiro-me claro à posição de tolos como Boris Johnson, incapazes de apresentar uma alternativa coerente).
Seria irónico se na sua ânsia de extrair o RU da UE sem um acordo, estes últimos acabassem por obrigar o Parlamento Britânico a aprovar novo referendo e que esse determinasse a permanência desse País na UE, mas parece-me que de momento a posição mais realista é mesmo a da PM britânica.
A sua posição é, pelo menos, tão legítima como a minha, mas não é o que penso.
Os povos, tal como as pessoas individualmente, têm o direito de reconsiderar as decisõs tomadas.
Mais de 7.500.000 de eleitores estão hoje descontentes com o Brexit. E sentem que foram enganados pelas falas mansas da propaganda pró-Brexit em 2016...
As pessoas votaram mas não sabiam no que estavam a votar.
Não, a GB não é um modelo de democracia, muito pelo contrário. Desde há séculos que são a sede do Império. É fácil brincar às democracias que se tem por trás milhões de escravos a trabalhar para a Sua Majestade que mora na Ilha!
Na realidade, o referendo realizou-se em condições de pouco esclarecimento (democrático). Ninguém sabia para aonde, por onde e como ia 'sair'. A única certeza eram as condições de 'ficar' e, mesmo estas, muito pouco equitativas (em relação aos restantes países membros da UE).
O que estava então em causa, na altura de David Cameron, era consumar uma ameaça revanchista (reaccionária) contra o avanço da Europa enquanto União, sob a manhosa postura de 'status especial' para o Reino Unido (dentro da UE) que foi acordada com primeiro-ministro britânico antes do referendo (Fev. 2016) e que traduzia importantes restrições à emigração, à livre circulação de pessoas (de bens é outra coisa), ao espaço Schengen, bem como uma importante travagem na dinâmica de integração europeia.
Quando a Europa aceitou estas condições acocorou-se e estava a exibir os fundilhos (desprotegidos). O Reino Unido nunca 'acreditou' na UE e, desde logo, o 'agachar de Bruxelas', em 2016, foi o primeiro dos múltiplos erros que se encadearam.
Agora, à volta das rábulas em curso - geridas pelas diversas correntes de 'brexisteers' - a UE poderá estar na mira de um insidioso processo de chantagem. No decurso desta semana muito se esclarecerá...
O que diríamos nós se depois do referendo à IVG em 2007 se tivesse realizado outro logo 3 anos depois que tivesse dado o resultado inverso?
May e a UE já vincaram que não há mais espaço para negociações. Quero crer que assim será. E se os Britânicos decidirem que não querem este acordo, pois que saiam sem nenhum.
Note, Carlos Esperança, que é por estas e por outras que eu sou contra a democracia plebiscitária. Ela resulta normalmente da falta de coragem dos políticos de irem contra uma opinião pública que é francamente volúvel (ou, no caso de Cameron, meramente uma fação do seu próprio Partido que pelo menos tem sido notoriamente consistente no seu ódio à UE). Mas, uma vez tomado esse caminho, não podemos fazer referendos até dar o resultado que desejamos.
A solução de May é pois um mal menor que permite pelo menos que o RU não corte completamente as amarras com o resto do continente.
Creio que poucas pessoas têm condenado tanto a democracia referendária (lembro-me da Constituição Política de 1933) como eu. Defenso a democracia representativa e entendo que os direitos individuais nunca devem ser referendados. Estamos em sintonia, penso eu.
Mas, sendo eu contra a realização de referendos (mesmo se considero que a nossa pertença a esta UE foi feita sem a devida discussão, de lembrar que em tempos os insuspeitos Mário Soares e Jorge Sampaio defenderam uma consulta ao povo para aprovar Maastrich, recusada por Cavaco e Guterres), parece-me que uma vez tomada a decisão de consultar ao povo (e nunca em questões de direitos fundamentais, sublinho), há que acatar com a sua decisão, mesmo que ela seja má.
O Brexit resulta de uma raiva latente que existe no Mundo Ocidental pelas consequências nefastas para muitos dos nossos concidadãos do processo de globalização, e suspeito que há que a deixar correr. Os Britânicos têm que ser colocados face-a-face com as consequências nefastas do seu voto de protesto. Não porque eu lhes deseje mal, mas porque, por agora, parece ser isso que eles querem.
Acho que contrariamente a outros lugares, incluindo os EUA, a democracia britânica para já não corre riscos, desde que o Brexit ocorra e não seja um desastre. O caminho de May parece ser o único, na minha modesta opinião, que garante essas duas condições.
E fica à vista ou a tibieza ou a duplicidade de um Corbyn que parece que não quer outra coisa que não o poder, prometendo que vai conseguir da UE o que May não consegue. Isto tem um nome e chama-se demagogia...