Aonde vamos 'parar'?...
‘Paragem’ é a palavra de ordem do momento. Há poucos dias alertei para a perigosidade uma situação que informa a ‘greve cirúrgica’ dos enfermeiros sobre uma mirabolante pretensão de parar o SNS link. Parar o SNS é relativamente fácil comparado com as complexidades de o fazer funcionar bem. Fiquemos por aqui.
Pelo meio surgiu o Sr. Jaime Marta Soares a querer parar a Proteção Civil porque julga que a existência de uma estrutura nacional de proteção e segurança colide com os interesses dos bombeiros link.
É a ‘rebelião dos coletes vermelhos’ cujas consequências são imprevisíveis mas já começaram a aflorar, como no caso em investigação num incêndio em Cascais, que já transitaram para a Procuradoria-Geral da República.
Agora, surge um movimento de ‘coletes amarelos portugueses’ a querer parar o País link.
Ao que sabemos um grupo de operadores de telemarketing, um pasteleiro e um instrutor de artes marciais da zona Oeste do País, serão os mentores de uma ‘revolta’ anunciada nas redes sociais, acertada para o dia 21 de Dezembro, onde ninguém conhece a cara dos protagonistas – o que torna a revolta ‘anónima’ - mas o mais importante será a olímpica ignorância sobre o que verdadeiramente pensam (um ‘salto no escuro’).
Reivindicar questões como o aumento do poder de compra, impostos e combustíveis mais baixos e trazer o IVA para 17% corre o ‘risco’ de colher transversalmente largos apoios mas nada se adianta como consegui-lo.
Na realidade, as revindicações são per si causas justas e, mais concretamente, antigas, mas estamos perante um velho confronto da política: os meios e os fins. E acresce termos a memória histórica do que se passou - e das consequências - na Europa nos anos 30 do século passado.
Não serão inéditas, na história recente do País, este tipo de proposições. Tivemos o sidonismo na I República. Já no período pós-25 de Abril confrontamo-nos com algo parecido, embora noutro contexto. Foi a chamada manifestação da ‘maioria silenciosa’ de 28 de Setembro de 1974 que nasce no seio das forças (ultra)conservadoras em prol de um líder agregador dessas forças – o general António de Spínola.
Mas mesmo no contexto agitado de um PREC a ‘rebelião’ tinha rostos e um caudilho link .
Portugal pode ser contaminado pelos protestos dos ‘gilet jaunes’ em França?.
É claro que sim.
É claro que sim.
Somos um povo com um atávico traço sebastianista que adora cultivar os mistérios de revoltas (e 'soluções') surgidas das neblinas.
Os promotores da ‘revolta natalícia de 2018’ são uma espécie de (re)nascimento da rebelião do ‘Manelinho de Évora’. Na altura o Manelinho servia para proteger (esconder) os ‘conjurados’ que tentavam por de volta a nobreza portuguesa para reinar. O conde de Olivares - que representava o domínio filipino em Lisboa - saberia quem eram os ‘conjurados’, mas foi constrangido a entreter-se com o Manelinho.
Hoje, os portugueses são convocados para saírem à rua, para protestar, para ‘parar o País’, sem conhecerem os ‘conjurados’.
Os rapazes (ou as raparigas) das redes sociais do Oeste são a versão actualizada de ‘manelinhos(as)’ a fazerem-se passar por tolos. Mas pior é desconhecer quem estes ‘novos manelinhos’ pretendem (re)conduzir ao trono.
Serão os encapotados sucessores e os alegres saudosistas dos que nos ‘governaram’ 48 anos?
Convinha esclarecer estas sombrias questões antes da projectada 'rebelião de 21 de Dezembro'.
Comentários
Em França basta ouvir os que falam na televisão nacional ou local, para verificar claramente quem são.