Portugal – Ensaio e fracasso dos coletes amarelos
Embalados pelo êxito francês onde, à multidão de revoltados, se juntaram marginais a destruir montras, saquear estabelecimentos e lançar o caos, também a extrema-direita autóctone quis aproveitar o mimetismo para fazer provocações e provocar a desordem.
Entre dezenas de manifestantes, desolados perante o fracasso, os jornalistas e os polícias rivalizaram em número, apesar dos diretos televisivos a incitar a desordem, para fabricar audiências.
O líder do PNR lá estava com a tristeza de quem não conseguiu que o mal-estar do país, fustigado com greves da função pública, e indiferente ao apelo da central de intoxicação de extrema-direita e das redes sociais se transformasse numa manifestação de violência. Foi com brandura que o líder do partido neonazi foi afastado por dois polícias, para ser protagonista do tempo de antena que constitucionalmente é atribuído na RTP a todos os delinquentes organizados em partido político.
Do fracasso dos exaltados fascistas podem orgulhar-se todos os partidos representados na AR, com exceção da Dr.ª Cristas que «tem insistido em muitas das “teclas que estão a ser tocadas por este movimento” [dos coletes amarelos]», como antecipadamente disse à comunicação social. Apenas o CDS e, especialmente o PNR, estavam interessados nos desacatos que podiam beneficiá-los. Nem se deram conta das palavras ponderadas do PR na véspera do ensaio da insurreição falhada.
Os partidos de esquerda, assim como o PR e o PSD, que compreenderam que as razões dos franceses não eram as dos portugueses, têm motivos para se orgulharem do sentido pedagógico das posições assumidas e de se regozijarem com a desolação dos arruaceiros presentes, mas não podem, sobretudo os primeiros, negligenciar o efeito perversor dos órgãos que devem as audiências às alterações da ordem e cujos interesses dos detentores procuram o enfraquecimento da solução política que viabilizou a atual legislatura.
Aliás, há hoje poderosas máquinas de propaganda que sabem como juntar desilusões de sinal contrário e organizar manifestações demolidoras que põem em risco a democracia. A comunicação social, em vez de denunciar quem organizou a manifestação, divulgou até à náusea os horários e locais de encontro num apelo frustrado à insurreição.
Anteontem a extrema-direita e a Dr.ª Cristas tiveram um dissabor, e o ensaio não podia ter-lhes corrido pior, mas a peça encenada pode ainda vir a ter êxito. A maioria silenciosa foi a minoria silenciada pela vergonha do fracasso. A Dr.ª Cristas falhou.
Em Braga houve desacatos entre manifestantes, depois de o autarca os ter recebido. Foi dali, da cidade que cinzelou o explosivo cónego Melo, que partiu o 28 de maio.
Temos de ser vigilantes e saber distinguir aliados, mesmo a contragosto, dos adversários para quem a democracia está para eles como o toucinho para Maomé.
Desta vez, a extrema-direita falhou. Na próxima pode ter êxito. Nem toda pensa com os músculos, como os neonazis do PNR.
Entre dezenas de manifestantes, desolados perante o fracasso, os jornalistas e os polícias rivalizaram em número, apesar dos diretos televisivos a incitar a desordem, para fabricar audiências.
O líder do PNR lá estava com a tristeza de quem não conseguiu que o mal-estar do país, fustigado com greves da função pública, e indiferente ao apelo da central de intoxicação de extrema-direita e das redes sociais se transformasse numa manifestação de violência. Foi com brandura que o líder do partido neonazi foi afastado por dois polícias, para ser protagonista do tempo de antena que constitucionalmente é atribuído na RTP a todos os delinquentes organizados em partido político.
Do fracasso dos exaltados fascistas podem orgulhar-se todos os partidos representados na AR, com exceção da Dr.ª Cristas que «tem insistido em muitas das “teclas que estão a ser tocadas por este movimento” [dos coletes amarelos]», como antecipadamente disse à comunicação social. Apenas o CDS e, especialmente o PNR, estavam interessados nos desacatos que podiam beneficiá-los. Nem se deram conta das palavras ponderadas do PR na véspera do ensaio da insurreição falhada.
Os partidos de esquerda, assim como o PR e o PSD, que compreenderam que as razões dos franceses não eram as dos portugueses, têm motivos para se orgulharem do sentido pedagógico das posições assumidas e de se regozijarem com a desolação dos arruaceiros presentes, mas não podem, sobretudo os primeiros, negligenciar o efeito perversor dos órgãos que devem as audiências às alterações da ordem e cujos interesses dos detentores procuram o enfraquecimento da solução política que viabilizou a atual legislatura.
Aliás, há hoje poderosas máquinas de propaganda que sabem como juntar desilusões de sinal contrário e organizar manifestações demolidoras que põem em risco a democracia. A comunicação social, em vez de denunciar quem organizou a manifestação, divulgou até à náusea os horários e locais de encontro num apelo frustrado à insurreição.
Anteontem a extrema-direita e a Dr.ª Cristas tiveram um dissabor, e o ensaio não podia ter-lhes corrido pior, mas a peça encenada pode ainda vir a ter êxito. A maioria silenciosa foi a minoria silenciada pela vergonha do fracasso. A Dr.ª Cristas falhou.
Em Braga houve desacatos entre manifestantes, depois de o autarca os ter recebido. Foi dali, da cidade que cinzelou o explosivo cónego Melo, que partiu o 28 de maio.
Temos de ser vigilantes e saber distinguir aliados, mesmo a contragosto, dos adversários para quem a democracia está para eles como o toucinho para Maomé.
Desta vez, a extrema-direita falhou. Na próxima pode ter êxito. Nem toda pensa com os músculos, como os neonazis do PNR.
Comentários
As contestações não são facilmente exportáveis e a sua importação não é mecânica, nem automática.
No 'ciberactivismo' uma coisa é colocar um 'like' outra será participar (ativamente) numa manifestação de rua.
O transito do virtual para o real é sinuoso e joga com múltiplos fatores. Um deles será a clareza dos objetivos.
Quem leu a extensa lista de reivindicações do movimento promotor - que coleciona muitos problemas em suspenso - ficou com múltiplas dúvidas, subsidiárias de outras tantas contradições que, prefiguram a contestação como sendo uma amálgama muito dúctil e friável.
O 'programa de luta' tinha demasiados ingredientes de ideologia de extrema-direita - e ligações com estruturais nesse âmbito - o que terá 'afugentado' muita gente.
Outra lição é a fluidez que informa as 'reivindicações ao molho', isto é, exorcizando traços ideológicos, no contexto político, absolutamente indisfarçáveis.
Quem porfia por ocultar a ideologia que está subjacente às suas tomadas de posição - e foi esse o caso - tem alguma coisa a esconder.
Não é necessário ser muito vivido para entender que a ocultação da ideologia é o hábito da extrema-direita que, nestas circunstâncias, opta por refugiar-se em 'pragmatismos'.
Provavelmente, a 'manif dos coletes amarelos' teria tido mais impacto - e sido um confronto de forças mais objectivo - se o mote tivesse sido: "Deus, Pátria e Família"