Comunismo e nazismo
Em 19 de setembro, o Parlamento Europeu (PE) aprovou (535 votos a favor, 66 contra e 52 abstenções) uma resolução que estabelece que “o comunismo e o nazismo são a mesma coisa”, portanto, igualmente condenáveis.
Surpreende a inoportunidade, ligeireza e iliteracia política dos deputados que a votaram. Não se discute o carácter totalitário nem os crimes hediondos que regimes comunistas e nazis ou fascistas cometeram, e devem ser execrados. É hipócrita a referência ao dia 23 de agosto de 1939, Pacto Molotov-Ribbentrop, que estipulava ‘a não-agressão entre a Alemanha nazi e a URSS comunista que dividia os territórios de Estados independentes entre os dois regimes totalitários’, como se não fossem já adversários e não se odiassem. O que explica a invasão alemã e 22 milhões de mortos da URSS na luta contra os nazis?
É abissal a diferença de objetivos na ideologia e nos inimigos. Como os fascistas, Hitler, no Mein Kampf, elegeu “o comunismo como verdadeiro inimigo a ser combatido”. As palavras não podem significar o que decidem os eurodeputados, usurpando as funções de filósofos, sociólogos, historiadores e semiólogos.
Mao, Estaline, Hitler, Franco e Mussolin foram criminosos execráveis, mas não se pode pensar que duas doutrinas antagónicas “são a mesma coisa”. E a que ideologia se atribuem, por exemplo, os crimes de Saddam Hussein, Idi Amin, Suharto, Chiang Kai-shek ou Théoneste Bagosora, do Ruanda?
Não se trata de defender qualquer das duas ideologias, mas exige-se a decência de não as confundir. Quanto a totalitarismos, não se podem ignorar as religiões e as atrocidades que perpetraram no passado e agora. Haverá totalitarismos piores do que as teocracias? Os índios foram exterminados por nazis ou comunistas? O genocídio dos muçulmanos rohingyas, na Birmânia, está a ser cometido por uns ou outros?
A Europa terá esquecido a Guerra dos Trinta Anos e a Cruzada contra os albigenses. Os eurodeputados ignoram as Cruzadas, a evangelização, a Inquisição e o apoio ao nazismo e fascismo pelo cristianismo; o do fascismo islâmico à opressão da mulher, terrorismo e à negação dos Direitos Humanos; e os crimes sionistas.
O comunismo e o nazismo deram origem a massacres hediondos, e não há entre ambos qualquer paralelismo conceptual. E pior foi a argumentação contra os comunistas: “não evoluíram e continuam a privar os cidadãos de liberdade, soberania, direitos humanos e desenvolvimento socioeconómico”, quando não há hoje ‘perigo comunista’ na Europa e há a iminência do perigo fascista. A instrumentalização do PE por neofascistas de vários pseudónimos, do Grupo de Visegrado e de outros países, criou a resolução que autoriza o seu uso perverso e revê a História de forma vesga e néscia.
A declaração do PE, cuja bondade se desconhece, ignora o maior genocida de sempre da Península Ibérica, apoiado por Hitler, Mussolini e a Igreja católica –, Francisco Franco, só hoje removido do Vale dos Caídos.
Os eurodeputados desconhecem que a sedição de Franco contra a República só triunfou graças ao apoio de Hitler e Mussolini. O carniceiro tinha a sua secretária ornamentada com a foto de Hitler, tal como Salazar, em Portugal, tinha a de Mussolini, então mais inspirador para o ditador de Santa Comba do que a Senhora de Fátima.
O revisionismo histórico ignorante é cego e perigoso. Continuo a ler Saramago, o maior ficcionista português de sempre, com o deslumbramento que torna irrelevante qualquer tentativa de lhe retirarem o Nobel do nosso contentamento.
E não há perigo de me tornar comunista.
Surpreende a inoportunidade, ligeireza e iliteracia política dos deputados que a votaram. Não se discute o carácter totalitário nem os crimes hediondos que regimes comunistas e nazis ou fascistas cometeram, e devem ser execrados. É hipócrita a referência ao dia 23 de agosto de 1939, Pacto Molotov-Ribbentrop, que estipulava ‘a não-agressão entre a Alemanha nazi e a URSS comunista que dividia os territórios de Estados independentes entre os dois regimes totalitários’, como se não fossem já adversários e não se odiassem. O que explica a invasão alemã e 22 milhões de mortos da URSS na luta contra os nazis?
É abissal a diferença de objetivos na ideologia e nos inimigos. Como os fascistas, Hitler, no Mein Kampf, elegeu “o comunismo como verdadeiro inimigo a ser combatido”. As palavras não podem significar o que decidem os eurodeputados, usurpando as funções de filósofos, sociólogos, historiadores e semiólogos.
Mao, Estaline, Hitler, Franco e Mussolin foram criminosos execráveis, mas não se pode pensar que duas doutrinas antagónicas “são a mesma coisa”. E a que ideologia se atribuem, por exemplo, os crimes de Saddam Hussein, Idi Amin, Suharto, Chiang Kai-shek ou Théoneste Bagosora, do Ruanda?
Não se trata de defender qualquer das duas ideologias, mas exige-se a decência de não as confundir. Quanto a totalitarismos, não se podem ignorar as religiões e as atrocidades que perpetraram no passado e agora. Haverá totalitarismos piores do que as teocracias? Os índios foram exterminados por nazis ou comunistas? O genocídio dos muçulmanos rohingyas, na Birmânia, está a ser cometido por uns ou outros?
A Europa terá esquecido a Guerra dos Trinta Anos e a Cruzada contra os albigenses. Os eurodeputados ignoram as Cruzadas, a evangelização, a Inquisição e o apoio ao nazismo e fascismo pelo cristianismo; o do fascismo islâmico à opressão da mulher, terrorismo e à negação dos Direitos Humanos; e os crimes sionistas.
O comunismo e o nazismo deram origem a massacres hediondos, e não há entre ambos qualquer paralelismo conceptual. E pior foi a argumentação contra os comunistas: “não evoluíram e continuam a privar os cidadãos de liberdade, soberania, direitos humanos e desenvolvimento socioeconómico”, quando não há hoje ‘perigo comunista’ na Europa e há a iminência do perigo fascista. A instrumentalização do PE por neofascistas de vários pseudónimos, do Grupo de Visegrado e de outros países, criou a resolução que autoriza o seu uso perverso e revê a História de forma vesga e néscia.
A declaração do PE, cuja bondade se desconhece, ignora o maior genocida de sempre da Península Ibérica, apoiado por Hitler, Mussolini e a Igreja católica –, Francisco Franco, só hoje removido do Vale dos Caídos.
Os eurodeputados desconhecem que a sedição de Franco contra a República só triunfou graças ao apoio de Hitler e Mussolini. O carniceiro tinha a sua secretária ornamentada com a foto de Hitler, tal como Salazar, em Portugal, tinha a de Mussolini, então mais inspirador para o ditador de Santa Comba do que a Senhora de Fátima.
O revisionismo histórico ignorante é cego e perigoso. Continuo a ler Saramago, o maior ficcionista português de sempre, com o deslumbramento que torna irrelevante qualquer tentativa de lhe retirarem o Nobel do nosso contentamento.
E não há perigo de me tornar comunista.
Ponte Europa / Sorumbático
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