Marques Mendes e as suas homilias semanais
Nunca sabemos se o bruxo de Guimarães é ele próprio, o militante de uma das fações do PSD, o conselheiro de Estado ou o alcoviteiro de Belém, mas qualquer um dos avatares é suficiente para que os jornais, televisões, emissoras de rádio, televisões e redes sociais façam eco da sua homilia do “Jornal da Noite” da SIC.
Há anos, quando tinha acesso à agenda do Conselho de Ministros, nos tempos lúgubres de Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís, era certeiro a predizer o futuro e a acertar no que se discutia em S. Bento, incluindo as reuniões que se faziam por telemóvel, onde os SMS podiam ser a ata para a resolução do grupo GES/BES e outras decisões graves.
A fama de pitonisa privilegiada do regime vem desses tempos. No início da legislatura do anterior governo, que o PS, BE, PCP e PEV sustentaram, já se enganava mais vezes do que o que nunca tinha dúvidas, seu antecessor na liderança do PSD.
Na última homilia, no domingo, como convém aos pregadores, no dia seguinte à tomada de posse do atual Governo, à falta de notícias, dedicou-se às divagações sobre o “estado de espírito” do PM e saiu-se com este sombrio diagnóstico: “António Costa está com medo da sombra e psicologicamente frágil”.
Logo ecoaram as palavras em tudo o que fosse megafone ao serviço da direita, agora da direita que aguarda de Belém um sinal de que não lhe faltará, quando a casa do PSD e o táxi do CDS vierem a brilhar da lavandaria dos congressos.
O homem devia lembrar-se da sintonia com as capas dos jornais no início da legislatura anterior, quando o Professor Cavaco ululava imprecações e, já laureado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade, devorava frascos de sais de fruto para debelar a azia de um Governo apoiado por toda a esquerda e a que o velho salazarista fora obrigado a dar posse.
Num país onde minguam notícias e sobram opiniões é um regalo recordar as capas dos jornais de há quatro anos, já que as profecias do bruxo se perderam no ruído da intoxicação da opinião pública.
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