Marcelo e o Governo

Em momento particularmente grave, já com alarme do efeito demolidor do coronavírus na economia mundial, sem previsão das graves consequências no país, o PR veio dizer que não dissolve a AR neste seu mandato e, perante as lutas partidária e as dificuldades do Governo, que “Não se pode começar a legislatura com ambiente de fim de ciclo”.

A primeira afirmação faz dos eleitores parvos. Seria o suicídio político, a impedir-lhe a reeleição, quando só dispõe de seis meses para usar a sua prerrogativa, dissolver a AR, vedada nos últimos seis meses deste mandato e nos primeiros seis do segundo. É uma forma injusta e sibilina de fragilizar um Governo para o qual ainda não há alternativa.

A segunda afirmação, em modo de intriga, é mais grave. É um ataque feroz ao Governo e à AR onde os partidos fazem política, como devem, e o Governo negoceia como pode.
É uma afirmação demolidora, e não se vê que colha qualquer benefício pessoal, além da vontade de apoiar a direita, fora do tempo, porque novas eleições repetiriam um quadro partidário semelhante, salvo para a extrema-direita a quem facilitaria o crescimento.

O PR devia deixar a Marques Mendes, conselheiro de Estado da sua confiança, a tarefa que desempenha com grande vivacidade. Marques Mendes, protegido de escutas pela pertença ao Conselho de Estado, é o Dias Loureiro de Marcelo, igualmente impoluto, e pode dispensar o PR de análises duplicadas e prejudiciais à isenção do cargo.

Enfim, em período de defeso para ósculos, selfies, funerais, cerimónias pias, Urgências dos hospitais, feiras e festas profanas, o Governo sofre ataques do PR, e este arrisca-se a delapidar o capital acumulado ao quilómetro, ao beijo, ao incêndio, ao peditório e ao comentário através de microfones e câmaras televisivas que o seguem em permanência.
Marcelo esbanjou o entusiasmo com que há quatro anos o País se livrou do antecessor.

Enquanto se mantém em reclusão voluntária, depois do teste negativo ao coronavírus, a que imprudentemente se expôs, em vez de revelar à TVI a vida, isolado em casa: “Trato das refeições, arrumo a casa e lavo a roupa”, tão credível como esmerar-se a preparar a sopa de vichyssoise, era altura de refletir sobre os excessos que minaram a alegria geral com que a sua tomada de posse foi acolhida há quatro anos (9-2-2016).

Comentários

Jaime Santos disse…
Carlos Esperança, convenhamos, a minha alegria na eleição de Marcelo foi tão só e apenas que ele nunca seria pior do que Cavaco Silva...
Jaime Santos, também a minha. Mas foi grande.

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