A Covid-19 e a responsabilidade individual

Não subscrevo a absolvição do Natal dada pela ministra da Saúde e, muito menos, a da passagem de ano, que muitos não se abstiveram de comemorar em grupo, com capitosos néctares, ao som da música, em estreita comunhão de corpos. De igual modo, excluo a culpa do Governo na gestão da pandemia, na coincidência de ataques orquestrados de que é alvo e na exoneração das responsabilidades dos comportamentos individuais.

Sei como conviveram várias famílias num caso e no outro. No caso do Natal, ainda sou indulgente, mas lamento que a festa do calendário da folia possa antecipar o colapso do sistema de saúde, da economia, da segurança coletiva e da estabilidade emocional.

Não possuo estudos que sustentem a minha convicção, mas a observação diária durante o meu passeio matinal deixa-me a pior impressão sobre os comportamentos individuais que, embora minoritários, são francamente reprováveis.

A saída desordenada das missas, de crentes que diariamente aí vão em busca da palavra, os transeuntes isolados que passam numa conhecida avenida de Coimbra, sem máscara, com ela no pulso ou no pescoço, a cruzarem-se com outras pessoas, e os fumadores, que inalam gulosamente o fumo e o expelem em amplas baforadas, são o exemplo eloquente da falta de civismo e insensatez cívica.

Há um médico, amigo da missa e da hóstia, que diariamente a percorre sem máscara, e a quem, com a bonomia e delicadeza a que a estima e consideração de quase meio século me obrigava, chamei a atenção no início da recomendação do uso. Evasivo na resposta, ainda hoje me cruzei com ele e o cumprimentei à distância, após mudar de passeio para que se revisse no meu exemplo. Sei que é inútil.

Sabia-o uma fortaleza da fé, desconhecia-lhe a leveza do civismo, agravada pelo facto de ainda fazer clínica numa especialidade que lhe exige maior consciência perante a pandemia. Mantenho a estima, esvaiu-se a consideração.

Que raio de país é este onde a responsabilidade individual não existe e a culpa é sempre alheia!?

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