USA – O assalto ao Capitólio
Após a Revolução de Abril, Francisco Pereira de Moura teve dificuldade a explicar o que era o fascismo, numa sessão de esclarecimento, em Trás-os-Montes. Faltou-lhe o eloquente exemplo do assalto ao Capitólio, em que bastava socorrer-se do filme dos acontecimentos e dizer, «é aquilo».
Quem viu a horda dos neonazis, admiravelmente caracterizada
no aspeto e na condução dos atores do filme, com guião escrito por um
desvairado, na Casa Branca, não precisa de palavras. Bastam as imagens.
Um louco não é inevitavelmente burro e o agitador que
envenenou os selvagens durante quatro anos, que os acirrou então e teleconduziu,
procurava, como aconteceu, no assalto ao santuário da democracia, a
ridicularização das instituições e a manutenção do poder.
Hoje, apesar de sobressaltos que podem ainda acontecer, com
os ratos a abandonarem o barco da sedição, o neonazi ainda presidente dos EUA,
já não é o chefe, é o coveiro de um império que prenuncia o advento de outro, assustador,
que nasceu numa ditadura.
A fragilidade das democracias liberais, cuja supremacia
moral e civilizacional é clara, torna-se mais débil com os êxitos na economia e
no combate à pandemia por regimes autocráticos onde não há direitos individuais
e é temerária a aspiração à liberdade.
Os EUA devem aos países democráticos a reparação dos danos
causados, a reposição da esperança e a restituição da confiança nos tratados
assinados.
A liberdade e a confiança perdem-se num só dia, e levam
anos, muitos anos, a restaurar. A imagem violenta da horda racista, acéfala e
telecomandada pelo ódio, há de perdurar como metáfora do ataque aos valores
democráticos.
Ver a casa da democracia, onde estavam os 100 senadores e os
435 membros da Câmara dos Representantes, incluindo a líder, n.º 2 na linha de
sucessão, invadida por vândalos, alguns armados, foi um crime tão grave que a complacência
com o mandante seria mais um golpe contra a democracia.
Os próprios juízes do Supremo, os nomeados por Trump,
perderam legitimidade moral para defenderem os direitos, liberdades e garantias
que só a limpidez de eleições livres confere.
O assalto ao Capitólio foi o pior filme que vi e o mais
assustador a que assisti em direto.
Ponte Europa / Sorumbático
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