A Justiça e o ruído mediático – Texto comprido e chato (4500 carateres)

Muitos leitores, esmagados com as notícias oriunda da central de intoxicação da Direita, hão de ter esquecido três secretários de Estado do PS coagidos a deixar o Governo por aceitarem um convite da Galp para assistirem a um jogo de futebol da Seleção Nacional.

Condenei então a aceitação e a bondade do convite, mas não presumo que a viagem de avião, o bilhete de futebol, jantar e dormida, possam ter corrompido os entusiastas da Seleção Nacional de Futebol, empolgados com o jogo em Sevilha.

Nessa viagem foram numerosos os aficionados do futebol, deputados de vários partidos, que aceitaram o convite e aplaudiram a Seleção na final, o que, para os apaixonados, foi o momento de euforia aqui perto, em Espanha, onde se respeitam os direitos Humanos.

Recordo que, entre muitos outros, viajaram Luís Montenegro e Hugo Soares, deputados, agora figuras proeminentes do PSD, e sobre os quais paira o silêncio.

Não sei se continuam arguidos, mas recordo a demissão dos três Secretários de Estado, jovens de elevada categoria, que viram a carreira política e a honra pessoal manchadas, dois deles arguidos até ao fim da vida, Fernando Rocha Andrade e João Vasconcelos. Rocha Andrade era considerado um fiscalista notável na Universidade de Coimbra.

O subdiretor do Expresso, em linha, 11-11- 2022 10:14, um Silva (Martim), num ataque boçal ao PM, referiu-se ao sec. de Estado arguido e demitido, ignorando que o brilhante professor de Fiscalidade já faleceu, como “uma ‘cria’ de António Costa”.

Num país onde os políticos não gozam de presunção de inocência, compreendo mal que a notícia do membro do Governo, Miguel Alves, arguido sem seu conhecimento, fosse dada pelo Observador, órgão situado entre a IL e o Chega, retirando o exclusivo do noticiário judicial ao órgão oficioso Correio da Manhã.

O presidente da Câmara do Porto não se demitiu, sob acusações graves. Foi absolvido, e a Relação recusou o recurso do MP! Se não fosse “independente”, seja lá isso o que for, teria sido assediado diariamente, obrigado a demitir-se, e a terminar a carreira política.

A demissão, sob chantagem mediática, funciona, não como ato de dignidade, mas como assunção pública de culpa, o que não é justo.

Quem segue a política há muitas décadas sabe que os adversários querem atingir o PM, o que é legítimo, se não fabricarem os casos, mas não pode ser a comunicação social a substituir-se à luta partidária e a escolher a trincheira. Desta vez dispararam um livro.

A conjura, urdida no Observador, com o apoio de Cavaco e Passos Coelho, contava com Marques Mendes e Francisco Assis como artilheiros, para reabilitar o governo de Passos Coelho, Cavaco e o ex-governador do BP, Carlos Costa. Nem se ouviu falar do BPN!

Carlos Costa saíra pela porta pequena do BP e queria reabilitar-se com os cúmplices e vingar-se da contestação à recondução pelo PS, sendo o primeiro Governador nomeado sem apoio conjunto do PS e PSD, contra a vontade do PS. Saiu pelo postigo da torpeza.

A encenação foi tão grotesca que os banqueiros a condenaram. Francisco Assis, que era um bom figurante do bloco central, foi assaz cauto, e desertou. Pressentiu a repetição da intriga cavaquista, o então PR dizia temer escutas do PM. No lançamento do livro não se viu José Manuel Fernandes ou Fernando Lima, e o primeiro não devia andar longe. Assis deixou Marques Mendes sozinho a apresentar a encomenda.

Marques Mendes que em 2016 responsabilizou Passos Coelho no caso Banif quis agora implicar António Costa, esquecido do que disse há seis anos sobre o Banco da Madeira, UNITA, Berardo, Fátima Roque e outros, abençoados por Alberto João Jardim.

Lobo Xavier apressou-se a desmascarar a farsa, e Marques Mendes deve ter percebido que não pode meter-se em conjuras sem o aval de Marcelo, que logo o desmentiu.

Bastava olhar para o Governador que anulava concursos obrigatórios e escolhia depois quem não tinha concorrido, ou os dispensava quando era preciso, como no caso do filho de Durão Barroso, para gerar suspeitas! É inútil recordar a trágica ‘resolução’ do BES, a experiência pioneira de Maria Luís no laboratório PàF.

Como poderá alguém, que alegadamente sofreu pressões, ter calado então o que era sua obrigação denunciar para o fazer tanto tempo depois, atraiçoando a ética, o segredo de Estado e, talvez, mentindo, para vender o livro destinado a branquear a mediocridade própria e a de Cavaco e Passos Coelho? 

Não falou quando devia, para defender o Banco de Portugal, e expôs-se agora à torpeza para vender o livro onde o jornalista militante do Observador o quis reabilitar e denegrir o PM que a extrema-direita odeia e o PR quer substituir por um serventuário seu.

Caro/a leitor/a, se chegou aqui, é uma pessoa de coragem, e talvez já tivesse adivinhado a razão do circo mediático montado para a conspiração pífia.

Apostila – No início do livro, o autor atribui a Carlos Costa a 4.ª classe com distinção. É irrelevante e ridículo, e recordo que 1954 foi o último ano em que houve distinções. Era impossível, a quem nasceu em 3 de novembro de 1949, ter feito a 4.ª classe com 4 anos: «Nascido em terra de gente empreendedora, cedo Carlos Costa se evidenciou como o melhor aluno da Escola Primária 5 de Outubro, não sendo surpresa para a família e os amigos a aprovação com distinção no exame da quarta classe.» (in «O Governador – cap. 1 – Da aldeia para a Europa: o elevador social a funcionar por mérito.».


Comentários

JA disse…
Este é o modo normal da direita fazer política em Portugal. Foi assim, até à náusea, com Sócrates. António Costa, embora não pareça, sabe que é assim e começa a provar desse veneno. Infelizmente, do meu ponto de vista, com especial incidência no período que se seguiu à invasão da Ucrânia pela Rússia, o PS não só não consegue demarcar-se das posições da direita, como parece querer tomar a dianteira no ataque a direitos fundamentais: refiro-me à tentativa de impor o pensamento único no que concerne à guerra, notória no modo comos os órgãos de comunicação social tratam o assunto, sem que se note qualquer sobressalto das gentes do PS. Que saudades de Mário Soares!

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