Obrigado, Jerónimo de Sousa. Obrigado, PCP.

Surpreende, num país que não conheceu qualquer ditadura comunista e sofreu durante 48 anos uma ditadura fascista, o anticomunismo primário, quando o fascismo regressa de garras afiadas, sem disfarces e sem freios, impune e alheio à Constituição.

A memória dos povos é curta e já poucos se lembram de que os comunistas foram os mais tenazes e sacrificados na luta contra a ditadura a que, agora, alguns historiadores querem negar o carácter eminentemente fascista, na forma, conteúdo e atuação.

Portugal esqueceu o percurso do PCP, o sofrimento dos seus militantes, o sacrifício da vida e da liberdade, a pedagogia contra a guerra colonial, a coragem da clandestinidade e o sacrifício de tantos por um ideal que, embora minoritário, foi legitimado na luta pela democracia. Nem a participação na construção da arquitetura constitucional é relevada!

Pode acusar-se o PCP de não ter um projeto de democracia liberal, modelo que defendo, mas não pode acusar-se de ter atentado contra a CRP ou de ter apresentado propostas de lei que a firam, durante a vigência da CRP que nos rege e que ajudou a moldar.

Em plena democracia, quando Cavaco e Passos Coelho apagavam as marcas identitárias da nossa História, os feriados do 5 de Outubro e 1.º de Dezembro, quando destruíam as conquistas democráticas, num salazarismo serôdio, foi o PCP, com prejuízo da sua base eleitoral, que evitou a regressão democrática e tornou possível um Governo do PS, com apoio eleitoral do PCP e BE.

Na saída de cena do secretário-geral e deputado Jerónimo de Sousa, sinto o dever cívico de saudar o PCP e desejar ao velho operário comunista, Jerónimo de Sousa, as maiores felicidades.

A AR perde a voz ponderada de um deputado afetuoso. O País há de continuar a contar com o cidadão e militante de um partido que foi fundamental no processo democrático e imprescindível ao equilíbrio partidário e político português.

Obrigado, Jerónimo de Sousa. Obrigado, PCP.


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