Marcelo e a reescrita da História

Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa, por força do voto popular, mais presidente do que republicano, anseia por voltar ao lugar de onde partiu, ao seio da direita musculada, sejam quais forem os caminhos a percorrer ou a Vichyssoise a servir à mesa da política e dos esquecidos da História.

A propósito do 25 de novembro, Marcelo já procurou aliciar Ramalho Eanes, PR que o antecedeu no cargo, disputado ao seu presumível preferido, gen. Soares Carneiro, para evocar a data que o próprio Eanes considerou dividir os portugueses, e que é uma velha tentativa da extrema-direita, agora de toda a direita, para a confiscar.

A tentativa de diminuir o 25 de Abril é uma eterna aspiração da direita mais reacionária, como se Vasco Lourenço, Otelo e Vítor Alves não tivessem assumido a liderança de um movimento que se comprometeu a “Descolonizar, Democratizar e Desenvolver” o País.

Em 25 de novembro houve uma tentativa de golpe da extrema-direita para se apoderar do poder, banir partidos indesejáveis e concentrar poderes no PR que viesse a escolher.

Felizmente, por mais tortuosos que sejam os caminhos, o 25 de novembro teve ao leme o general Costa Gomes e foi da Região Militar de Lisboa, sob o comando do então gen. Vasco Lourenço, que as operações militares foram confiadas ao Ten. Coronel Eanes, para cumprir o “Documento dos Nove”, de Melo Antunes, sob a orientação política de nove conselheiros da Revolução. Vasco Lourenço, Pezarat Correia, Franco Charais, Canto e Castro, Costa Neves, Sousa e Castro, Vítor Alves e Vítor Crespo foram os outros subscritores e atores de primeiro plano nas movimentações militares desse dia.

Foram derrotados os que agora reclamam a data. Razão tem Vasco Lourenço que, hoje, em comunicado da A25A aos sócios, escreve "Não aceito agradecimentos dos que, em 25 de novembro de 1975, foram vencidos, por mim e pelos meus camaradas de Abril"! e ainda: «Não duvidemos, os derrotados em 28 de setembro de 1974 e em 11 de março de 1975, voltaram a ser derrotados em 25 de novembro de 1975!».

Os partidos que ora se reúnem, a comemorar a data, não têm um único militar vencedor que aceite o almoço. Só Marcelo insiste em confiscar a data para os seus, acompanhados da extrema-direita.

A venera a Pires Veloso, menos votado na candidatura a PR do que, muitos anos depois, Tino de Rãs, vem de quem chamou irmão a Jair Bolsonaro e outorgou o mais elevado grau da Ordem da Liberdade a Cavaco Silva. Parece querer agora subverter a História e confiscar para os seus a data que os autores consideram um detalhe no papel heroico que assumiram no 25 de Abril.

Antes de lhe ocorrer condecorar, igualmente a título póstumo, o inspetor da PJ, Júlio Regadas, o major Mota Freitas e Ramiro Moreira, derrotados no 25 de novembro, os democratas devem gritar:

Fascismo Nunca Mais!

25 de Abril. Sempre!

Viva o 25 de Abril! 


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