EUA, Donald Trump e o estado do Mundo
Há dois anos o aldrabão contumaz pode ter sido removido definitivamente, até pela sua idade, mas o Trumpismo mantem-se vivo na América, e alastra no Mundo com matizes locais, sendo o mais tosco avatar Jair Bolsonaro, o mais aristocrático Boris Jonhson, e com diversas nuances os da Hungria, Polónia, Sérvia e muitos outros países.
O Trumpismo não é uma ideologia, é um estado de espírito que
agrega o negacionismo dos factos, vacinas, resultados eleitorais, direitos individuais,
civilização e ciência, com um narcisismo que funde nacionalismo, religião,
tradições e violência.
Derrotado em 2020, com mais 7 milhões de votos do que
aqueles com que venceu as eleições em 2016, Trump é a prova insofismável de que
os EUA estão doentes, talvez a prenunciar o fim da hegemonia global, com o
Planeta a não suportar durante muito mais tempo tantos atropelos contra as
florestas, a biodiversidade e o clima, com a população a ultrapassar os 8 mil
milhões de habitantes para os quais minguam a água, o oxigénio, os alimentos e
a esperança de futuro.
A recandidatura de Trump, anunciada após a recente derrota pessoal
contra o partido Democrata, cuja política externa é igualmente oriunda dos
interesses do complexo militar industrial dos EUA, terá resistências no seu
partido, mas a ideologia, ou a sua ausência, é já o paradigma da direita radicalizada,
nos EUA e no Mundo.
A queda acidental de um míssil na Polónia, que a Nato e o PR
polaco já atribuíram ao “fogo amigo”, um acidente oriundo de Kiev e não de
Moscovo, como desejavam todos os belicistas, ansiosos pela guerra que pode
exterminar a Humanidade, revela a insânia dos povos que interiorizaram o ódio,
a violência e o espírito de vingança.
As numerosas guerras em curso, os milhões de refugiados em
todos os continentes, os mortos, estropiados e famintos, os terramotos,
inundações, secas, incêndios e outras catástrofes, com cada vez maior intensidade,
frequência e duração, parecem não servir de alerta a quem detém o poder para a
tragédia que atingirá os nossos filhos e netos.
Quando se negam as evidências e se vive, numa pequena parte
do Mundo, como se não houvesse deveres para com os países pobres, os pobres dos
países ricos e as crianças de todos os continentes, é o suicídio coletivo que
se procura, ignorando apelos lancinantes do secretário-geral da ONU, do Papa e
de outros humanistas, os avisos dos cientistas e os sinais da crescente aproximação
do abismo.
A América racista, xenófoba, isolacionista e patriarcal, versão
grotesca do mundo do Antigo Testamento, encontrou no robô que soube fugir aos
impostos e ganhar dinheiro, o seu modelo. A América sofisticada, culta e
cosmopolita é cada vez menor, e o resto do Mundo, talvez por mimetismo, é cada
vez mais parecido.
E não há um sobressalto universal contra as guerras, as
armas, os ataques aos Direitos Humanos, as desigualdades e os nacionalismos
agressivos!
A primeira geração suicida, a nossa, pode ser a última. A liberdade
já está encarcerada.
Ponte Europa / Sorumbático
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