A política, o futebol e a decência

O Qatar é um país com 10% de nacionais e 90% de estrangeiros. Teria cerca de 313 mil cidadãos, numa população de 3 milhões*, se as mulheres, incluindo as catarianas, casta nacional, fossem cidadãs onde a sharia é lei.

O piedoso xeque Tamim bin Hamad Al Thani, tornou-se emir em 1995, depois de ter desposto o pai, califa bin Hamad al Thani, através de um golpe de Estado, e não esquece o apoio ao Estado Islâmico que há de converter o mundo ao Islão, à bomba.

O País, que gerava apenas petróleo e gás natural, em grandes quantidades, diversificou a economia com a produção de estádios de futebol, com tal eficácia que foi contemplado com o 22.º Campeonato do Mundo de futebol.

A eficácia e rapidez com que foram construídas colossais mesquitas do pontapé na bola, templos de fé diferente são interditos, mataram mais de 6750 trabalhadores oriundos da Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka. Os catarianos foram salvos porque não laboram, apenas rezam e se divertem, desde que não consumam álcool, carne de porco ou outras vitualhas que o misericordioso profeta abomine.

Os falecidos não contam pois, em questão de direitos, são equiparados a mulheres. Foi, aliás, barato substituí-los, comprando outros nos países de onde eram originários os que sucumbiram sob o calor, jornadas de 14 horas e acidentes de trabalho.

Jornalistas, defensores de direitos humanos e organizações diversas condenam a escolha do antigo protetorado do Reino Unido, até 1971, para albergar o Campeonato Mundial de futebol, numa atitude que os mal-intencionados consideram política e não beneficia o brilho que o fogo de artifício emprestou à abertura oficial dos jogos. 

Há estadistas sensatos a advertir que é altura de esquecer os direitos humanos e de nos concentrarmos na nossa seleção. Macron tem razão ao dizer que não se deve politizar o desporto, talvez num remoque à exclusão da Rússia. O Emir anfitrião, um líder que fez o primeiro e último golpe de Estado há 27 anos, afirmou ontem, segundo li, que “chegou o dia mais esperado”, e acrescentou: “A partir de hoje e durante 28 dias vamos mostrar ao mundo a união em torno do futebol”, frase que vale um programa humanista.

O Catar é o principal financiador do Estado Islâmico o que pode levar o PM português, único responsável pela política externa, ou o PR que gosta de falar de tudo, a convencer o piedoso emir que acabe com o terrorismo em Cabo Delgado, em Moçambique, sem esquecerem que o país pertence ao Eixo do Bem, como demonstrou na Guerra do Golfo, apoiando com os seus tanques a Arábia Saudita, e oferecendo as suas bases aos EUA, França e Canadá, contra o Iraque.

O racismo é crime, e no Catar é mera idiossincrasia, o que leva a numerosos casamentos endogâmicos, dentro da casta catariana. Talvez por isso o estádio onde decorreu o ato inaugural tenha as iniciais AS+P, sendo “AS” Albert Speer, o arquiteto alemão filho do arquiteto de Hitler.

* DN, 21 agosto 2022 


Comentários

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides