A cruzada do Público
O Público de hoje parece ter sido escrito pela Conferência Episcopal. Do «Editorial» à estimável crónica de Vasco Pulido Valente, de Constança Cunha e Sá a António Marujo, é um mar de água benta, em prosa, com cheiro a incenso.
Fracassado o proselitismo evangélico de Bush, aparece agora, numa aparente coincidência, uma onda de proselitismo católico a rivalizar com a demente missionação do mundo islâmico.
Quando o sectarismo religioso está na origem de confrontos sangrentos e actos de terrorismo, mandava o bom-senso que o aprofundamento da laicidade do Estado e a sua defesa pela comunicação social dos países democráticos, servissem de vacina à insensata tentativa de submissão a uma verdade única, a livros únicos da fé e às imposições do clero.
Portugal, que não teve Reforma, partilhou com a Espanha o entusiasmo na violência da Contra-Reforma. O Público de hoje parece a voz da Igreja católica, saída das paróquias rurais, num ataque ao laicismo e na defesa descabelada do que não esteve nem está em risco - a comemoração do Natal cristão.
Pelo contrário, é a laicidade do Estado que tem sido posta em causa, não faltando bispos nas inaugurações, nomes de santos na toponímia, autarcas de joelhos, ministros de cócoras e o primeiro-ministro a benzer-se.
Basta lembrar a tragédia das teocracias para haver contenção na promiscuidade entre as Igrejas que se julgam maioritárias e os Governos que capitulam perante o incenso e a água benta. A neutralidade do Estado é uma condição indispensável à liberdade religiosa que a todos cabe respeitar e defender.
Dos EUA à Arábia Saudita, da Polónia ao Irão, sabemos o mal que a subordinação do Estado aos interesses confessionais tem provocado. É por isso que o Público, de hoje, me surpreende e entristece.
Fracassado o proselitismo evangélico de Bush, aparece agora, numa aparente coincidência, uma onda de proselitismo católico a rivalizar com a demente missionação do mundo islâmico.
Quando o sectarismo religioso está na origem de confrontos sangrentos e actos de terrorismo, mandava o bom-senso que o aprofundamento da laicidade do Estado e a sua defesa pela comunicação social dos países democráticos, servissem de vacina à insensata tentativa de submissão a uma verdade única, a livros únicos da fé e às imposições do clero.
Portugal, que não teve Reforma, partilhou com a Espanha o entusiasmo na violência da Contra-Reforma. O Público de hoje parece a voz da Igreja católica, saída das paróquias rurais, num ataque ao laicismo e na defesa descabelada do que não esteve nem está em risco - a comemoração do Natal cristão.
Pelo contrário, é a laicidade do Estado que tem sido posta em causa, não faltando bispos nas inaugurações, nomes de santos na toponímia, autarcas de joelhos, ministros de cócoras e o primeiro-ministro a benzer-se.
Basta lembrar a tragédia das teocracias para haver contenção na promiscuidade entre as Igrejas que se julgam maioritárias e os Governos que capitulam perante o incenso e a água benta. A neutralidade do Estado é uma condição indispensável à liberdade religiosa que a todos cabe respeitar e defender.
Dos EUA à Arábia Saudita, da Polónia ao Irão, sabemos o mal que a subordinação do Estado aos interesses confessionais tem provocado. É por isso que o Público, de hoje, me surpreende e entristece.
Comentários
Adiante,
De facto, as coisas não se passaram bem assim. O Iluminismo que, no essencial, exaltava a Razão encontrou terreno fértil nos países protestantes. Nos "terrenos" católicos foi, simplesmente, "torpedeado". Nunca a ICR foi uma adepta do Iluminismo que agora prescreve aos mulçumanos. Correcta, nesse pormenor, a asserção de Bento XVI, quando diz que a Igreja Católica foi "obrigada"...
Em Portugal, a importação destes ideais foi tardia. Chegou, para encurtar razões, com o Marquês de Pombal. Terá sucumbido com a sua queda em desgraça. A prosa de hoje do Público - quase 3 séculos depois -mostra como é dificil chegar ao futuro montado nos cavalos da Igreja. Que fazem que andam, mas não andam...
Somos um País difícil. Exportamos pouco e importamos mal e a más horas...
Isto aplica-se tanto às mercadorias como às ideias.
Esta época para si não deve ser fácil. É tudo a falar do mesmo. Está a remar contra a maré instituida e acredita que a pode mudar. Louvo-lhe o esforço.
Desejo-lhe um Bom Natal
Esta época só é má para mim porque me excedo nos hidratos de carbono.
A minha cultura é judaico-cristã, como a da maioria dos portugueses, e tenho saudades dos presépios da minha infância.
Tenho em casa uma cabeça de Cristo, de um artista maconde, que guardo com carinho.
Não confunda isto com a minha descrença e uma luta cívica para que as religiões se não apropriem do espaço público de forma permanente e definitiva.
Bato-me (no campo das ideias) para que o cristianismo tenha direito a ser praticado no mundo islâmico.
O respeito por todas as crenças e o direito a combatê-las (pela palavra) é apanágio da tolerância herdada do iluminismo.
Tenha um feliz Natal, que já se comemorava muitos séculos antes do nascimento de Cristo, com outros nomes.