Cavaco – Um trajecto de vida

Um jovem que não tem pudor em revelar à PIDE, de motu proprio, a animosidade para com a mulher do sogro, que aceita bem a ditadura, e que, às duas testemunhas pedidas para atestar o seu comportamento, acrescenta outra, da União Nacional, revela que se conduz pelos caminhos vulgares de quem trata da vidinha. É a norma, não a excepção.

É a essa luz que deve ser vista a concessão de uma pensão por serviços prestados à Pátria, a dois pides, enquanto a negava a Salgueiro Maia, quando foi primeiro-ministro. É a essa incultura cívica que deve ser atribuída a indiferença perante o acto de censura perpetrado pelo seu sub-secretário de Estado, Sousa Lara, a um livro de Saramago. É a amoralidade do «rapaz comum» e a não formação conveniente da personalidade que explicam o silêncio que ainda mantém sobre a mais grave canalhice praticada no regime democrático – o caso das escutas –, impedindo que se averigúe a sua responsabilidade na tentativa frustrada de derrubar o Governo pela calúnia e intriga.

Se a iliteracia o atira para o anedotário nacional, com os erros de ortografia ou com o desconhecimento de Camões, é a conduta ética que deve fazer reflectir os eleitores no próximo domingo.

Admitamos que nunca suspeitou de interesses próprios nos perdões fiscais de Oliveira e Costa, durante o seu Governo, que não imaginou as fraudes da SLN, que não desconfiou da lavagem de dinheiro do BPN numa qualquer offshore, que foi acaso da sorte o lucro das acções do BPN, mas a compra de uma vivenda na aldeia da Coelha, com contornos tão nebulosos, com os vizinhos que tem e a justificação de que não sabe das escrituras das suas aquisições imobiliárias, é uma trapalhada capaz de envergonhar o cargo a que se propõe de forma tão grave como no caso das escutas. Portugal está perante o maior escândalo financeiro do período democrático, com risco de só conhecermos a ponta do iceberg e de ver associado o nome de um PR.

Cavaco tem 48 horas para esclarecer o País. Se o não fizer, pode ser reeleito PR mas o respeito a que a Constituição obriga os portugueses torna-se uma violência intolerável.

As escutas, as negociatas das acções do BPN e a aquisição da casa da praia da Coelha através de nebulosas permutas e com uma matriz da propriedade referida no Tribunal Constitucional, que não está nos registos notariais, são demasiadas nódoas no pano de um PR que se reivindica imaculado.  E se cala.

O mísero professor só abdicou da docência.
Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Anónimo disse…
ex-ce-len-te, como diz o miser....
abraço
JARRA disse…
SUBSCREVO!
POR CAUSA DA COELHA, VOTO NO COELHO!
Abdicou da docência e da decência.
São traquibérnias a mais. Ninguém, e muito menos um político e economista, é tão ingénuo que ande com aquela gente e se meta em tais negociatas sem lhe cheirar a esturro.
Excelente e esclarecedor.

Só num país como o nosso, culturalmente deficitário e pouco exigente em termos de cidadania, é que é possível termos um presidente com o perfil do Prof. Cavaco Silva.

Apetece dizer, como o outro, que cada povo tem o Presidente que merece !
andrepereira disse…
Apoiado. Caímos no charco!
Maria disse…
Gostei do curriculum deste "ilustre" Praquê continuarmos c/ um regime Presidencialista? Não é carne nem peixe e gramo mto trincar o q vejo no prato DD
Maria

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