Berlusconi Não! Juízes Nunca ! *

 Silvio Berlusconi tem quase todos os defeitos que o tornam detestável. Controla grande parte da comunicação social graças à imensa fortuna a que não são alheias a corrupção e a fuga ao fisco. Legisla em proveito próprio e comporta-se como um adolescente venal e imaturo. É marialva e envolve-se em orgias que o decoro, as funções e a idade deviam evitar.

Com a maior fortuna italiana e, provavelmente, europeia, não recua perante o tráfico de influências. As excentricidades e o exotismo do seu comportamento dão uma imagem pouco recomendável, mas não lhe impediram as vitórias eleitorais que já o conduziram três vezes a primeiro-ministro e fizeram dele o PM do pós-guerra com mais tempo de Governo. Nem lhe retiraram o apoio empenhado do Vaticano que por todas as dioceses e paróquias italianas promove as suas candidaturas.

Decididamente, Berlusconi não é apenas uma desonra para a Itália, é uma vergonha para a Europa. Mas, dito isto, temos de reconhecer que a Itália vive em democracia, que há sempre jornais e televisões que não controla e que a sua vida pública e privada é continuamente escrutinada. E não restam dúvidas de que as eleições continuarão a ser livres.

Não deixa de causar estranheza que a casta donzela, na foto, fosse objecto de interesse dos juízes, e merecesse ter o telefone sob escuta, se as relações profissionais da jovem não tivessem chegado à alcova de Berlusconi. Falta saber se os buracos das fechaduras de outros clientes foram devassados ou se o privilégio foi apenas do primeiro-ministro.

É surpreendente como chegam aos meios de comunicação italianos novas informações sobre o conteúdo do processo, no que diz respeito a Berlusconi. Convinha saber se a coragem do promotor de Justiça de Milão seria tão grande se, em vez de uma aventura sexual de Berlusconi, estivesse em causa uma das redes mafiosas Cosa Nostra, Camorra ou napolitana.

Prefiro um biltre que possa ser derrubado em eleições do que ter um Governo capturado por um pilar da democracia que facilmente se politiza e se transforma numa corporação que a ameaça. É tão perigoso deixar a Justiça à solta como capturá-la partidariamente.

* Título: recordando Alexandre O'Neill

Comentários

andrepereira disse…
Muito bem, Esperança. Os princípios são para ser aplicados sobretudo para proteger aqueles de quem não gostamos.
Esta forma sórdida de fazer "justiça" na comunicação social, porque impotentes de agir na sede própria (o tribunal) é um mau hábito de alguns MP's de alguns países...

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