BOLÍVIA - vitória de Evo Morales!
O presidente Evo Morales da Bolívia conseguiu renovar o mandato à frente dos destinos do País por mais 5 anos.
Terá obtido o apoio de mais de 5 milhões de eleitores.
Mas, o mais importante destas eleições não é a personalidade política em si mesma.
O resultado obtido pelo agrupamento político que lidera - Movimiento al Socialismo (MAS) – conseguiu mais de 2/3 dos assentos na Assembleia nacional (plurinacional), permitir-lhe-à desenvolver a doutrina indigenista – que referimos há dias num post - e reformular órgãos chave do Estado , como o Tribunal Constitucional e a Corte Suprema, até hoje um sério obstáculo à sua governação.
Só nos resta felicitá-lo e desejar-lhe um bom e equilibrado exercício do poder.
Comentários
Felicito Evo Morales e o Movimiento al Socialismo por terem ganho as eleições democraticamente.
Mas não partilho o seu optimismo para com os ideais "indigenistas", que me soam a nacionalismo e até a racismo. Como diz no post, Morales pretende "reformular" órgãos chave do Estado, como o Tribunal Constitucional, que seriam "um sério obstáculo à sua governação".
Não quererá ele acabar com o elementar pilar da democracia que é o princípio da separação de poderes, concentrando estes na sua pessoa? Não quererá, como Xavez, alterar a Constituição para se perpetuar no poder?
Oxalá que me engane, mas a minha velha pituitária antifascista deu
sinal, e não costuma enganar-se...
Há uma natural reserva contra o teor do movimento indigenista que, em minha opinião, não tem razão de ser.
O movimento indigenista não é um movimento nacionalista - muito menos ultranacionalista - como, por exemplo, podemos suspeitar da "via bolivariana" defendida por Hugo Chavez.
O fulcro do indigenismo é o fim da segregação (indigena) que perdura desde a colonização espanhola e do domínio absoluto dos terratenientes, uma oligarquia que dominou (e ainda domina) os meios de produção e "ditava" as leis no País.
O movimento que Evo Morales preconiza para o seu País é, acima de tudo, uma concepção reactiva contra a exploração agrária que existe não só da Bolívia, mas em toda a América Latina.
Quem não se recorda dos "coroneis" brasileuros e os seus métodos de exploração das fazendas de cacau ou da cana de açucar?
O acesso à terra e preservaçõa da identidade cultural que rege a relação do indigena com o meio ambiente é o motor do indigenismo.
E não é obrigatório que essa acessibilidade decorra por caminhos anti-democráticos.
A sua finalidade será antes ir ao encontro do Mundo global, promover o cultivo e a exportação dos produtos nativos, acertar o passo com os tempos actuais, fugindo ao jugo do domínio actual, neo-colonialista, agora comandado pelas multinacionais norte-americanas como a United Fruits, etc.
A meu ver, o "antiindigenismo" é que será um movimento étnico-racista, tendo como referência a noção de que existe uma suposta superioridade dos euro-descendentes em relação às populações nativas das Américas.
Esta concepção levou a situações próximas das "limpezas étnicas" ou a "acantonamentos forçados" em reservas indigenas, como as que se verificam no Brasil.
Portanto, salvo o devido respeito pelo temor que alterações do contexto constitucional sempre suscitam numa Europa estabilizada politicamente, acho que Evo Morales merece, para esta luta emancipadora, o benefício da dúvida.