DAESH: O pré-anúncio da escalada…

A ameaça directa do Daesh a Portugal é mais uma amostra da estratégia intimidatória deste tipo de terrorismo.
Significa, por outro lado, que existem alterações tácticas e operacionais em pleno desenvolvimento que se inserem nos últimos acontecimentos no terreno e que se traduzem num recuo para uma retaguarda cada vez mais estreita e vulnerável.

Quando se pretende atacar tudo e todos isso - em termos práticos – só pode significar desespero e desorientação. O problema é que enquanto esses transtornos duram e não são abafados pela realidade, podem sair muito caros.

Quando se afirma “Today It Is Brussels and [Its] Airport, and Tomorrow It Might Be Portugal and Hungary….” link pretende-se cobrir a Europa com uma vaga de insegurança e de medo.

Ao fim e ao cabo a reedição de um novo ‘período de Terror’ como existiu, por exemplo, na Revolução Francesa. Este período de violência passou por diversas fases desde a violência cega e inaudita sobre os inimigos da Revolução até à famosa ‘Lei dos suspeitos’. 
Corresponde à fase mais radical do jacobinismo e no presente somos capazes de fazer uma interpretação histórica à luz das lutas e disputas que inundaram esse período. 

Hoje, tudo é diferente. Não se trata de ‘salvar’ ideias revolucionárias mas de ‘afirmar’ (reafirmar, para alguns) interpretações de princípios religiosos medievos e anacrónicos eivados de um radicalismo teológico absurdo e arrasador dos valores humanos a que não são estranhos gigantescos interesses financeiros e económicos. 
Não existem propriamente ‘inimigos’. Todos são suspeitos e provavelmente todos serão considerados ‘culpados’.  Mesmo alguns dos ‘crentes’ (xiitas, p. exº.) desde que tenham a ousadia reivindicar a sua ‘própria’ interpretação, isto é, de pensar pela própria cabeça, não estão a salvo.

O anúncio de eventuais alvos em Portugal e na Hungria não pode dar origem a pânicos absurdos nem a especulações político-filosóficas. 
Não estamos protegidos por nenhum escudo invisível. Nem o facto de sermos uma sociedade aberta e relativamente coesa capaz de integrar as diferenças nos salvaguarda de atitudes que primam pela irracionalidade. A periferia é outro argumento inocente.

O que estas ameaças devem provocar - desde logo - é a tomada de consciência do grande problema que o Mundo enfrenta em relação ao jihadismo violento e indiscriminado e ameaçador.
No início do século XXI apareceu Bin Laden a afirmar que pretendia criar uma 'rede' de combatentes, isto é, a Al Qaeda. O Daesh acabou por dar corpo a este pré-anúncio e hoje a Europa e o Mundo (basta olhar também para o Oriente e para África) estão aí envolvidos.

Não existem meios securitários, de (contra)informação ou de contenção capazes de controlar e suficientes para detectar esta realidade transformada numa ameaça surda e invisível.

Ter a pretensão de controlar o que se prega nas madrassas, anular o permanente aliciamento pelas redes sociais e simultaneamente vigiar as movimentações de pessoas entre diversas regiões onde não existe qualquer tipo de estrutura organizativa estatal dirigida por uma governação com idoneidade política (e já nem se exige que seja democrática) como seja a Líbia, Sudão, Síria, Iraque Afeganistão, etc. é uma utopia. Para processos endémicos são necessários meios eficazes e capacidade para suster as virulentas fontes de replicação e os meios disseminação. É assim que fazemos com as doenças.

Resta-nos mudar - inverter-  o rumo aos acontecimentos. Esta alteração qualitativa terá custos materiais, financeiros e humanos. Mas tem de começar já!. 
O Mundo não consegue compreender o ditakt de ‘não colocar as botas no terreno’ defendido pela Administração Obama (já em prelúdio de campanha eleitoral) e seguido acriticamente pela Europa. Ninguém entende como ainda não foram (fechadas) seladas as instalações petrolíferas à periferia de Mossul. Fechar a torneira do petróleo sujo que alimenta  - em larga medida – o Daesh é uma tarefa prioritária. Quer existam eleições nos EUA, quer se pretenda confiar na eficiência dos avançados meios aéreos.

Tornou-se evidente que é indispensável sujar as botas com a areia do deserto. Quando mais tempo o Mundo protelar o corte das fontes de financiamento do Daesh mais mortes teremos de chorar. 
Não estamos, em Portugal, ao abrigo de nada mas temos de defender uma estratégia coerente e responsável capaz de contrariar – onde mais dói – a barbárie que o Daesh pretende usar como arma de medo, intimidação e dominação.

Comentários

Jaime Santos disse…
Concordo inteiramente. Convém ainda lembrar algo relativo ao 'modus operandi' de organizações terroristas, a saber, o seu oportunismo. Atacam onde é mais fácil. Sabendo nós as fragilidades que apresentam as nossas estruturas de segurança, em particular essa coisa chamada SIS, que anda perto de ser uma anedota, eu diria que provavelmente não estando um ataque a Portugal no topo da lista de prioridades do Daesh, temos boas razões para nos preocuparmos. Urge pois que Governo, AR e PR se debrucem sobre as fragilidades do nosso sistema de segurança, olhando em particular para a reorganização do SIS. Não é possível que no futuro alguém contrarie as ordens de um superior por 'pirraça', como afirmou Silva Carvalho em tribunal, ou que supostas lojas de aventais andem à bulha pelo controle de tais serviços. Poupem-nos, senhores, isto não é nenhuma cowboyada. Quem quiser brincar aos cowboys, que vá para o Texas!
Actos terroristas terão de ser evitados,para isso existem os serviços de informações e as forças policiais.Cada atentado conseguido pelos terroristas é um falhanço mais das outras duas forças.Claridade,d"abord... Não fiquemos como bois a olharem para os palácios:porquê toda esta agitação no mundo islâmico e porquê toda esta raiva contra o Ocidente e Oriente? Dá para escrever vários livros, mas,pelo menos,comecemos a pensar nisso,à revelia dos nossos jornalistas,só empenhados em ampliar a voz do dono deles.

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