Laicidade


Se permitimos a colonização de edifícios públicos pela iconografia cristã, abdicamos da legitimidade de impedir que as escolas, hospitais, lares e creches do país fiquem à mercê da chantagem que o Islão está a fazer na Europa.  

Os corredores dos serviços do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC) já parecem caminhos para as sacristias onde Senhoras de Fátima e crucifixos ornam as paredes, quiçá a convidar os estropiados a viajar de joelhos.

Em vez de promoverem a religião, atraem bactérias e animosidade. A falta de senso dos devotos e a incúria das direções, transformam um hospital público numa sacristia.

Hoje, deixo aqui à reflexão dos leitores que são crentes, uma foto do átrio do Hospital da Guarda. Pensem se gostariam de ver ali a Estrela e o Crescente islâmicos ou a Estrela de Davi. 

Comentários

e-pá! disse…
Na mente de muita gente as instituições de saúde continuam prisioneiras dos caritativos onde se albergavam pacientes e se tentava a todo o custo tratar da alma dos doentes e pouco se fazia (dado o estado da ars medica) pela saúde dos enfermos.

Resquícios desta situação - primeiro os cuidados da alma e depois logo se via - perduram por todo o lado. Eram instituições assistenciais e só muito mais tarde entrou a 'medicalização'. Num período mais tardio dão-se as primeiras diferenciações nestes cuidados dizem respeito às doenças contagiosas e, entre elas, as venéreas e a lepra (gafarias). Outra vertente é a dos hospícios, para as doenças mentais. Quanto ao resto eram ações eminentemente caritativas dentro da lógica cristã como são os casos do Hospital dos Meninos Órfãos (que existiu na Mouraria) e o de Santarém para os filhos ilegítimos, etc.

A 1ª. 'grande reforma hospitalar' foi concretizada por D. João II com a criação do Hospital de Todos os Santos, onde congregou esta valências dispersas pondo de pé a um hospital mais consentâneo com a conceção atual.
O percurso histórico é muito complexo mas é de salientar que nesta época (séc. XVI) é criada a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que viria a desempenhar um papel relevante neste contexto.

Resumindo: até ao 25 de Abril ou, se quisermos, até à criação do SNS as Misericórdias (entretanto espalhadas por todo o País) têm um papel preponderante na questão da resposta hospitalar portuguesa.

Depois da implantação do SNS e da aquisição de uma estatuto universal e equitativo perdem relevância (instalações e meios) mas a crise financeira galopante desde 2008 que lançou (e ainda continua a lançar) milhares de portugueses na miséria fez 'renascer', sob o desígnios de uma direita, com laivos demo-cristãos, as Misericórdias, como o 'terceiro sector' (económico), à volta de 'programas caritativos e assistencialistas'.

A imagem do Hospital da Guarda (no post) é retrato deste retrocesso social. As devotas imagens são o adorno da regressão política e social (que urge combater em nome da laicidade, mas também do progresso).
Jaime Santos disse…
Eu discordo da tentativa de privar o espaço público de símbolos religiosos, em particular um lugar onde se morre como um hospital. Obviamente, se um judeu ou muçulmano (ou outro crente qualquer) insistir em colocar um símbolo religioso seu num hospital público onde são tratados crentes dessas religiões, deve ser-lhe concedida autorização para que o faça. A colocação desses símbolos religiosos deriva mais da superstição e do medo da morte do que da fé religiosa. Também não sou contra a existência de capelanias, desde que não seja o erário público a pagar a conta. A presença de tal simbologia não me afeta e se conforta outros que estão doentes, não tenho nada a obstar... Como já disse, acho que cada qual negoceia com a vida da forma que melhor sabe...
Jaime Santos:

Só posso dizer que penso de forma diferente e que é ilegal a presença de símbolos religiosos no interior de edifícios públicos, salvo museus ou obras de arte que integrem o edifício/moumento.
Jaime Santos disse…
Pois Carlos, mas trata-se aqui de seguir, na minha opinião, o Espírito da Lei e não a sua Letra. Em particular, num lugar onde tantos são confrontados com a situação limite da Morte e em que pelo menos alguns encontrarão conforto na presença de imagens religiosas. Depois, como bem diz, qualquer edifício histórico (muitos dos quais ainda em uso) está pejado de imagens religiosas, algumas belíssimas, em contraposição com os abastardamentos modernos (com algumas exceções, como a obra de Ernst Barlach, cuja casa museu tive o privilégio de visitar há muitos anos). Não poderemos pois nunca privar o espaço público de iconografia religiosa. Não concordo que se coloquem crucifixos em salas, assim como não quero aulas a serem interrompidas para os alunos participarem em celebrações religiosas, mas não estou disposto a comprar uma guerra com os meus concidadãos por causa da presença de uma imagem num hospital...

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