Porque hoje é dia 1 de abril, falam os defuntos


Cavaco Silva, à procura de editor para o próximo Roteiro, sem partidários nem amigos, deu uma conferência de imprensa, para celebrar a data e fingir que está vivo.

Bem-disposto, distendido, respondeu a todas as perguntas dos jornalistas e esclareceu as mais-valias das ações da SLN e a feliz coincidência de a filha as ter comprado e vendido nos mesmos dias; a permuta dos terrenos de que se sumiram as escrituras; o negócio da vivenda Gaivota Azul; a amizade, que não renega, com Oliveira e Costa, Dias Loureiro e Fernando Fantasia e o preenchimento da célebre ficha da Pide. Sem o questionarem os jornalistas, explicou a invenção das escutas que comprometiam Sócrates, o PM a quem tributou enorme lealdade institucional e apreço pessoal. Num ato de altruísmo, assumiu a responsabilidade do equívoco que expôs Fernando Lima e comprometeu a imagem da grande referência ética do jornalismo mundial, José Manuel Fernandes.

Definiu-se como social-democrata, sempre, indiferente a bens materiais, e leitor assíduo de Camões, em especial d’Os Lusíadas, de que já leu duas vezes a primeira estrofe do I Canto. Dedica-se ao estudo da gramática e o seu objetivo imediato é treinar o futuro do indicativo do verbo fazer, repetindo diariamente a primeira pessoa do singular.

Como contributo para a ciência, prepara o ‘Tratado sobre emoções das vacas açorianas’ e um outro, ‘Tratado sobre a vida sexual das cagarras das Ilhas Selvagens’.

***
Também Passos Coelho, estranhando não ser entrevistado, há mais de 24 horas, marcou uma conferência de imprensa para anunciar que renuncia ao cargo de primeiro-ministro, para ser deputado na AR; que deixa vago o cargo de PM, para concorrer de novo; e que a sua resignação se deve a uma conjura de quem perdeu as eleições. Afirmou que deve à Tecnoforma, que deixou na falência, a única experiência para governar. Teceu rasgados elogios a Maria Luís Albuquerque, a única ministra das Finanças da UE que teve um discípulo que chegou a PM. Quanto às dificuldades com o fisco e a Segurança Social, reafirmou a crença de que não é perfeito e que foi dele a ideia de criar uma lista VIP.

Sobre a política do seu governo, disse ter sido excelente, social-democracia, sempre.

Sobre Marcelo Rebelo de Sousa, disse que não o conhecia, embora tivesse ouvido falar de um cata-vento que queria substituir o único presidente digno, depois do movimento sedicioso do 25 de Abril, culpado pela sua vinda do Ultramar, infelizmente perdido.

*** 
Paulo Portas, que crê na Ressurreição, ouviu os cúmplices e aos costumes disse nada.

Comentários

Cum escamartilhão, ó companheiro!
A ironia e o sarcasmo com que nos vens presenteando têm crescido exponencialmente!
Ameaçam mesmo arrebentar com a escala das ordenadas. E das abcissas também!
Influxos do mês do dito, febre dos cravos, sei lá.
Abraço
e-pá! disse…
Ontem, o 'reconduzido' novo dirigente do PSD, Pedro Passos Coelho, presenteou-nos com uma peroração verdadeiramente paradoxal
Voltou a tecer encómios sobre um passado onde continua sem se aperceber que desempenhou um papel de marioneta, ignorou o presente (continua a julgar que só por malfeitorias do 'sistema' não continua 1º. ministro) e quanto ao futuro resumiu a sua posição à tarefa de abutre [se tudo correr mal estou aqui para limpar(-vos) os ossos até à medula].
Fez lembrar Chico Anysio e o seu incrível personagem "Urubulino".

Não resisto a replicar um refrão sobre o Urubu composto pelo genial humorista brasileiro:

Urubu tá com raiva do boi,
E eu já sei que ele tem razão
É que o urubu tá querendo comer
Mais o boi não quer morrer
Não tem alimentação

O mosquito é engolido pelo sapo,
O sapo a cobra lhe devora.

Mas o urubu não pode devorar o boi:
Todo dia chora, todo dia chora.

Gavião quer engolir a socó,
Socó pega o peixe e dá o fora.

Mas o urubu não pode devorar o boi,
Todo dia chora, todo dia chora.


Passos Coelho esteve muito consentâneo com a rábula que o post criou sobre o 1 de abril mas esqueceu-se de cantarolar a cantiga, digamos, baiana...sobre os urubus.

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