Porque sou contra o multiculturalismo
Em primeiro lugar, porque falhou. Em segundo, porque há quem pense que a xenofobia, a violência, a misoginia, o tribalismo e o esclavagismo possam ser formas de cultura.
O multiculturalismo é, muitas vezes defendido por Estados europeus, quase sempre para preservação de diferentes culturas e, muitas outras, por um sentimento de segurança das comunidades que resistem à integração e promovem a sua própria exclusão.
Recuso-me a considerar como cultura a discriminação de género, a prática da excisão do clitóris, os casamentos forçados ou outras formas de opressão que as pressões religiosas, patriarcais e sociais impõem, ao arrepio do direito, nos estados democráticos.
A sociedades tribais ou concentracionárias perpetuam valores que as vítimas assimilam e defendem. O estímulo que vem dos guetos, para o confronto às sociedades abertas dos países civilizados, galvaniza as vítimas, quase sempre mulheres, recebidas em apoteose, quando regressam do desafio aos valores que as suas comunidades odeiam.
Recuso-me a aceitar as carruagens só para mulheres, que já circulam na Alemanha, para as defender do assédio criminoso de homens recalcados e embrutecidos, quiçá parentes dos juízes portugueses que subscreveram um acórdão em que responsabilizaram jovens do sexo feminino, pelas roupas que usavam, na violação de que tinham sido vítimas em zona do “macho ibérico”, espécie exótica de primatas não interdita à magistratura.
Num distrito do norte da Suíça, foi aprovada uma decisão que dispensa os estudantes muçulmanos do sexo masculino de cumprimentar as professoras com um aperto de mão.
Não me limitarei a discordar, assumo um combate permanente como contributo cívico.
O multiculturalismo é, muitas vezes defendido por Estados europeus, quase sempre para preservação de diferentes culturas e, muitas outras, por um sentimento de segurança das comunidades que resistem à integração e promovem a sua própria exclusão.
Recuso-me a considerar como cultura a discriminação de género, a prática da excisão do clitóris, os casamentos forçados ou outras formas de opressão que as pressões religiosas, patriarcais e sociais impõem, ao arrepio do direito, nos estados democráticos.
A sociedades tribais ou concentracionárias perpetuam valores que as vítimas assimilam e defendem. O estímulo que vem dos guetos, para o confronto às sociedades abertas dos países civilizados, galvaniza as vítimas, quase sempre mulheres, recebidas em apoteose, quando regressam do desafio aos valores que as suas comunidades odeiam.
Recuso-me a aceitar as carruagens só para mulheres, que já circulam na Alemanha, para as defender do assédio criminoso de homens recalcados e embrutecidos, quiçá parentes dos juízes portugueses que subscreveram um acórdão em que responsabilizaram jovens do sexo feminino, pelas roupas que usavam, na violação de que tinham sido vítimas em zona do “macho ibérico”, espécie exótica de primatas não interdita à magistratura.
Num distrito do norte da Suíça, foi aprovada uma decisão que dispensa os estudantes muçulmanos do sexo masculino de cumprimentar as professoras com um aperto de mão.
Não me limitarei a discordar, assumo um combate permanente como contributo cívico.
Comentários
O multiculturalismo falhou - como se afirma no post - porque não foi capaz de coexistir com o interculturalismo.
O conceito de multiculturalismo de origem anglo-saxónica é, para além de um produto ideológico e cultural nascido no Ocidente, uma penitência (na conceção judaico-cristã) dos crimes expansionistas e coloniais dos 'Impérios' (de que a escravatura é um exemplo remoto, mas que também passa por 'extermínios étnicos', etc.).
O multiculturalismo não tem de envolver exclusivamente processos de assimilação e integração.
A integração deveria ter sido promovida pelo interculturalismo que é um processo mais vasto e passa pelo "reconhecimento" de outros grupos étnicos, sociais, culturais e religiosos e não se restringe propriamente à afirmação doméstica de direitos individuais (direitos humanos, cidadania,
trabalho, educação, saúde e habitação). Incapacidade para "reconhecer" (viver com e contemplar pacificamente) a identidade e diferenças dos 'grupos' e as dinâmicas sociais e culturais dos mesmos poderá ser a chave do falhanço.
Tudo isto para levantar a questão de que a rejeição sumária do 'multiculturalismo' feita hoje por Sarkosy, Merkel e Cameron e amanhã por toda a Extrema-Direita europeia e pelo "trumpismo norte-americano" pode ser um roteiro suicida em termos políticos, sociais e culturais. Deixo de fora o religioso.
Bem, o que queria dizer: é muito cedo para condenar (exorcizar) o multiculturalismo.
O seu julgamento será fundamentalmente efetuado no futuro com especial preponderância nas questões (e nos resultados) humanitárias e identitárias, segundo uma rigorosa metodologia histórica e não em cimeiras, conferências ou campanhas dirigidas pelos atuais protagonistas políticos...
O Darwin dava saltos na tumba se lesse isto, sobretudo por vir de quem vem...
Ao estabelecer a cultura como antónimo da selvajaria, coloquei a cultura como a herança do Iluminismo e não como 'o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos que designam uma cultura'. Há 2 séculos a engorda de mulheres para consumo humano ainda fazia parte da cultura de algumas ilhas da Polinésia.
Contrariamente a Darwin, não a considerei como cultura mas como trogloditismo.
Concordo com Jaime Santos.
Se isso for possível, o nivelamento tem que ser feito "por baixo", como acontece por exemplo na integração económica.
O princípio da entropia máxima também é válido nestas questões.
Sem deixar de reconhecer alguma razão na sua réplica, pelo menos no que a mim diz respeito, permito-me recordar-lhe que a laicidade, que está na base das democracias, foi obtida pela repressão política sobre o clero cristão. Não vejo que haja um movimento para reprimir o clero islâmico ou o judaico (responsável pelo sionismo). E, de facto, nego igualdade cultural às crenças que não se submetem aos princípios da democracia multipartidária, a única que garante a pluralidade política, religiosa e cultural.
Porém, temos sempre que pensar que do outro lado da barricada, nos muçulmanos, por exemplo, faz-se o mesmo, não lhes faltando razões para apreciarem o seu sistema de cultura e para depreciarem a cultura ocidental.
Eu não sou Físico mas retive do que aprendi na escola sobre velho exemplo explicativo do princípio da entropia máxima que põe dois corpos de temperaturas diferentes em contacto dentro de um recipiente isolado térmicamente. E sei que o que está mais quente arrefece e o outro aquece até que a energia de agitação térmica se redistribui no interior do recipiente isolado, ficando ambos os corpos à mesma temperatura, dizendo-se então que o sistema está em EQUILÍBRIO térmico.
Isto tem tudo a ver com o multiculturalismo. A integração só pode fazer-se se houver fluxos de energia inter-culturas, dentro do território que consideramos. Se os ocidentais aceitarem ficar mais muçulmanos e os muçulmanos aceitarem ficar mais ocidentais. Querer que os muçulmanos adiram aos valores ocidentais, pura e simplesmente, é o mesmo que querer que o corpo frio do tal recipiente aqueça até atingir a temperatura do corpo quente, e SEM QUE LHE SEJA FORNECIDA ENERGIA!
A aplicação do princípio da máxima entropia a este fenómeno cultural é fatal como o destino, excepto se tivermos o azar de resvalar para uma situação semelhante ao nazismo... mas mesmo nesse caso o princípio funcionou. Foi só uma questão de tempo.
Nota: tenho consciência que o exemplo do corpo a aquecer sem energia adicionada é o meu preconceito de superioridade (enquanto membro da cultura ocidental) a revelar-se.