CUBA: notas à margem das comemorações dos 90 anos de Fidel…

As imagens das comemorações públicas dos 90 anos de Fidel Castro circularam pelo Mundo. 
Poucos serão aqueles que duvidam sobre o lugar que Fidel ocupará no virtual panteão dos dirigentes revolucionários do século XX. Fidel não figurará aí com a aura afectiva e romântica do comandante Che Guevara mas como um dirigente latino-americano, revolucionário, popular, determinado e, ideologicamente, um intérprete de uma ‘praxis latina do marxismo’, onde a inspiração na luta independentista contra o colonialismo, travada pelo herói José Martí, foi um fortíssimo vector de agregação popular.

A revolução cubana, após a queda do muro de Berlim, viu-se confrontada com novos desafios, quer em termos económicos e de bem-estar social, quer em termos de solidariedade internacionalista. 
Fidel de Castro, a partir da década de 90, teve manifestas dificuldades em adaptar-se aos ‘novos tempos’ da globalização, não só pela sua ortodoxia doutrinária, mas também pelos efeitos desestabilizadores advindos de um implacável bloqueio, com a duração de 60 anos, liderado pelos EUA.

Ao completar 90 anos de vida, recheada de protagonismo(s), o dirigente cubano, retirado da frente política activa desde 2006, por motivos de saúde, continua a congregar à sua volta o entusiasmo popular essencialmente pelo papel de liderança que desempenhou na ‘revolução cubana’.

Quando se lê a mensagem de aniversário que publicou a 12.08.2016, no site Cubadebate link, verificamos que as ‘novas ideias’ remanescentes de um velho combatente estão condicionadas pelos ‘novos tempos’. Fidel põe enfase na educação (considera que a ‘falta de educação é o maior dano que se pode fazer a uma criança’), questiona a situação demográfica mundial e dirige os seus elogios para a Rússia e China. Recebeu, em troca, um especial elogio do líder do Partido Comunista da Federação Russa, Guennadi  Zuiganov, que o considerou ‘um dos génios políticos do século XXlink.

Finalmente, e à primeira vista contraditoriamente, distanciou-se dos ‘novos tempos’, relativos à ainda incipiente aproximação Cuba-EUA, aproveitando o emblemático tema da Paz para criticar Obama que - quando da sua recente visita a Hiroxima - foi [politicamente] incapaz de pedir desculpas públicas e formais pelo sucedido no final da II Guerra Mundial (escreveu que ‘lhe faltaram palavras para desculpar-se pela matança de centenas de milhares de pessoas’…).

Fidel usou, politicamente, o ensejo das comemorações do seu 90º. aniversário, para manter-se distante (e receoso) da recente aproximação Havana-Washington, situação que já tinha ocorrido quando criticou, no jornal oficial Granma (‘El Hermano Obama’) link o contexto da visita de Obama ao seu irmão Raúl (em Março de 2016).

Na incerteza do mundo actual, na possibilidade de a política americana sofrer novas ‘cambalhotas’ (Trump é o que é e Hillary não se absteve de criticar na presente campanha Fidel e Raúl link) o vetusto comandante da revolução cubana não prescindiu de afirmar-se como sendo o seu líder histórico ou, se quisermos, uma ‘lenda viva’.

Comentários

Depois de 60 anos de bloqueio a Cuba que os EUA mantiveram,não se percebe como o velho Fidel não dê saltos de alegria pela aproximação dos bloqueadores sem que estes peçam desculpa e indemnizem a nação mártir! Estarei a enlouquecer,ou a propaganda enlouqueceu quem engole estes atropelos à Lei e à Ética como coisa muito natural?
e-pá! disse…
manuelpereirabarros:

A presença 'tutelar' de Fidel no regime cubano, que as comemorações dos seus 90 anos voltaram a expressar, mostra que a desmontagem do bloqueio não vai ser coisa fácil ou expedita.

Em 1962, e mais tarde - já neste século - com G.W. Bush, o bloqueio dos EUA a Cuba revelava uma finalidade explícita: matar o 'regime castrista' à fome.
Pretendia isolar politicamente a ilha caribenha e cortar qualquer tipo de financiamento a uma economia baseada no planeamento e investimento público, motor do desenvolvimento para qualquer modelo político socialista.
Apesar de todas as armadilhas e peripécias, não o conseguiram. Não é de crer que enquanto 'El Comandante' for vivo e mantiver a uma enorme influência política no regime o eliminar do bloqueio consiga ultrapassar barreiras tão fundas.

A almejada (pelos EUA) 'Cuba Livre' - considerando a actual situação interna cubana - dificilmente passará por 'festejos' a uma eufórica adesão à 'economia de mercado', situação que rapidamente faria regressar Cuba à condição de 'lupanar dos magnatas americanos'...

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