Do Diário da Diana – 14 anos – escola C+S da Musgueira (4334 caracteres)

Ontem falei com a minha mãe sobre a proibição das burkas pela AR porque não sabia o que era a burka, e desconfiei da bondade da lei quando vi quem a aprovou. Por isso, a primeira pergunta que lhe fiz foi se concordava, e ela, depois de me dizer o que era essa peça feminina de vestuário, disse-me que sim.

Fiquei estupefacta, logo a minha mãe, tão tolerante, que diz para não ligar ao pai, que me censura por ser demasiado curta a minissaia ou muito reduzido o biquíni! Ele tem aquelas coisas do Chega, mas tem falado pouco depois das eleições autárquicas.

A minha mãe é contra o uso da burka no espaço público em nome da laicidade, tal como é contra o dos hábitos monásticos na via pública. E admite que as procissões e as rezas na via pública devem obedecer às regras de quaisquer outras manifestações.

Já há tempos me explicara que as religiões monoteístas são misóginas e um tal Paulo de Tarso, santo, pois claro, considerava o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas. Por isso as mulheres não podiam cantar nas igrejas e eram obrigadas a cobrir os cabelos. Até castravam os garotos, os castrati, antes da puberdade, para os cânticos de louvor a Deus mantendo a tessitura de soprano. Que sorte para Passos Coelho não ter sido garoto nessa altura! Ele até canta bem, o pior foi ter ido para a política. Para nós, claro.  

Os padres eram cruéis! Faziam aos garotos o que o Ventura queria fazer aos abusadores sexuais, o que, aprovado, já teria levado um dirigente do Chega a falar fininho. O Chega tem destas coisas! Com as freiras não se incomoda, e muitas são imigrantes! Há falta de mão de obra, até para rezar, e para não fecharem os conventos a Igreja trá-las do Brasil, Polónia, PALOP, etc., e o André cala-se! Bem, não pedem o reagrupamento familiar. 😊

Mas voltando à proibição das burkas na via pública, coisa que nunca vi. A minha mãe lá me explicou. É isso mesmo, Diana, a proibição das burkas fazia tanta falta em Portugal como proibir aviões de aterrarem aqui na Musgueira. Até se calou ao ver aminha cara!

Não precisei de falar para responder à minha perplexidade e explicar a manobra política. Discutir uma coisa inútil na AR, desvia atenções de coisas sérias. E rende votos! Mas o Chega teve o apoio do PSD, CDS e IL, lembrei eu.

Eis o motivo! – disse-me. A maioria dos portugueses fica contente se lhe disserem que vão expulsar os imigrantes sem pensarem que os cantoneiros do lixo, os empregados de restaurante, os estafetas que levam as refeições a casa, os trabalhadores das obras ou os jardineiros são quase todos imigrantes.

Assim, esses partidos ficaram bem-vistos e deixaram o ónus do voto contra aos partidos e deputados que preferiram a decência e cujo humanismo os impedia de votar a favor.

Não me conformei e perguntei-lhe qual a necessidade de o PSD ter feito tão má figura. Já o CDS, agora mero apêndice do PSD, e próximo do Chega, não me admirou. E o IL, extremista na economia, mas que se reclama de liberal!?

Mais uma vez a minha mãe convenceu-me:

O PSD, depois da fulgurante vitória nas autárquicas, até o Moedas foi reconduzido, tem interesse em que não se fale do descalabro da governação, ainda a colher benefícios de quase dois anos a distribuir a herança do PS e a repetir que a esquerda faz tudo mal. Até já convenceu os eleitores de que o governo PS, com apoio do PCP e BE, o melhor dos seus governos, foi mau. Não tarda, foi péssimo. A direita é terrível na propaganda!

O Chega, cuja derrota não foi tão grande como se diz, mas teve um colossal fracasso para as expetativas, precisa de ruído para a fazer esquecer. Teve três presidências e não 30 como esperava, e o 3.º lugar em concelhos onde tinha sido o mais votado!

Então e o IL, mãe?  Ó Diana, quantos deputados tem?  Nove – disse eu. Então o quarto partido parlamentar que resultados teve nas eleições autárquicas? Só então compreendi que o partido Iniciativa Liberal foi o maior derrotado, ficou muito atrás do PCP e até do CDS, este um partido já em respiração assistida pelo PSD e a manter os autarcas que já ocupavam os cargos e gozam de simpatia e apoio local.

Dei-me por satisfeita e deitei-me a pensar qual será a inutilidade que vão discutir na AR quando o PSD for mais uma vez acossado com a governação ou a SPINUMVIVA.

Musgueira, 18 de outubro de 2025 – Diana

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