Noite de insónias

Noite de insónias

Ontem foi dia de pesadelo para os democratas. Steve Bannon, apóstolo do neofascismo enviado por Trump à Europa, no seu primeiro mandato, a evangelizá-la, anunciou que “Trump vai ser Presidente em 2028, e as pessoas devem acomodar-se”. A lei torna-se irrelevante para os ditadores.

Quem observa as sucessivas eleições europeias, às quais a política belicista da UE não é alheia, recorda o êxito do dinheiro e o engenho de Bannon, aliado ao servilismo da UE aos EUA. O êxito da extrema-direita europeia teve o contributo do sinistro personagem que Trump indultou, para o subtrair ao julgamento dos Tribunais.

A vitória de Javier Milei, na Argentina, logo saudada pelo seu apoiante Trump, foi outro susto. A teia de corrupção que o enleia, a ele que chegou ao poder com a promessa de a combater, parece ter tornado virtuoso o cadastro. O neoliberal impiedoso e amoral viu a confiança reforçada com os vencimentos dos funcionários públicos dependentes de um empréstimo dos EUA que só a vitória de Milei lhes garantia.

E foi com Portugal que mais sofri. Foi penoso assistir à discussão do OE/2026, que não pode desagradar muito ao Chega e IL, e sabê-lo aprovado pela abstenção do PS.

Nem sequer culpo José Luís Carneiro, sem alternativa depois de o seu partido aceitar a diabolização da direção de Pedro Nuno dos Santos (PNS) e, até, dos governos de Costa. Foi assim que gente do PS coagiu PNS a viabilizar os OE do PSD, deixando ao Chega a oposição. Com quem estaria bem no PSD, Assis, Cravinho, Sérgio Sousa Pinto, Beleza, Adalberto Campos Ferreira e outros, a social-democracia não tem quem a defenda.

E, em Portugal, como aliás, em toda a Europa, a receita para ganhar eleições é prometer deportar imigrantes, combater a corrupção e endurecer medidas penais. E ninguém o faz tão bem como Ventura, indiferente à elevadíssima percentagem de delinquentes que o Chega acoita e a quem distribui cargos.

A forma boçal como denigre as referências democráticas e reescreve a História, a hábil utilização da retórica de Mussolini, cuja receita resultou, sem se deter na forma como o duce acabou, e o recurso à calúnia, à intimidação e aos grunhidos, têm êxito garantido.

E, perante o desespero dos democratas, o Chega e o IL ameaçam votar contra o OE que facilmente subscreveriam, tornando corresponsável o PS. De facto, apenas os exíguos deputados do Livre, PCP e BE se opõem verdadeiramente.

Durante o debate, o execrável Ventura deu ainda azo a Montenegro para desfeitear o PM espanhol, dizendo que era o modelo do Chega, não dele, por uma opção divergente na tributação dos combustíveis.

Foi patético a exigir aumentos de vencimento no OE para polícias e bombeiros, onde já goza de forte apoio, com elementos das forças de segurança nas galerias. Conhecendo-se a sua defesa da impunidade da violência policial, arrepia a sedução obsessiva que faz àqueles com que conta para reprimir os democratas, se chegar ao poder.

De facto, com Salazar, não havia corrupção, isto é, a censura impedia a sua divulgação e a de outros crimes dos próceres do regime. Até os assassínios de oposicionistas, quando os cadáveres não se podiam ocultar, eram atribuídos aos comunistas.

Esgotadas as folgas orçamentais e as cativações recebidas do governo que Marcelo lhe endossou, o Luís não tem mais margem para compensar as borlas em IRC e IRS na sua obsessão de baixar impostos progressivos, em detrimento do IVA, que atinge todos por igual.    

A náusea e a revolta haviam de acompanhar-me durante a noite.


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