Pinto Balsemão - Faleceu
Faleceu Pinto Balsemão
Logo que a
morte foi anunciada passei a seguir atentamente as notícias e depoimentos a seu
respeito nos vários canais, em especial na SIC-N.
Não fiquei
surpreendido ou emocionado. Conhecia a idade e a debilidade da sua saúde, e era
um homem que eu respeitava há mais de sessenta anos e de quem nunca esqueci o
contributo para o regime democrático,
Conheci o
jornalista do Diário Popular onde se afirmou pela rebeldia num tempo em que
era difícil. E foi um bom jornalista. Fez jornalismo no jornal da família num
tempo em que a origem de classe e as conveniências o podiam ter conduzido à subserviência
à ditadura. Quem viveu esses tempos sabe que foi muito.
Senti esperança
na chegada da democracia quando integrou um grupo de deputados que ficaria
conhecido por Ala Liberal, com Leite Pinto, tragicamente desaparecido e o mais
carismático deles. Desse grupo Sá Carneiro, Magalhães Mota, Pinto Balsemão, Miller Guerra e
Mota Amaral são referências incontornáveis da democracia.
Mas foi
com o Expresso que Balsemão prestou o seu mais inestimável serviço ao País. Foi
no cinzentismo marcelista um promotor da esperança com a coragem, o dinheiro e o
talento que o acompanhava. Durante muitos anos não perdi um único número. Mesmo
em férias no estrangeiro mandava guardar todos os exemplares. Ainda hoje lhe
sou fiel.
Balsemão foi
deputado, ministro e primeiro-ministro, mas o rasto mais marcante é o de
jornalista.
Entre os
depoimentos que ouvi, desde o testemunho emocionado de Maria João Avilez ao do
oportunista Carlos Moedas, apareceram muitos a reivindicar a amizade com o político
aristocrata. E parecia que todos tinham sido amigos íntimos do homem rico que
conviveu com as figuras mais ilustres da aristocracia, da cultura, da finança e
das artes.
Não podia
faltar Marcelo, que o traiu no Governo, no Expresso e no partido. A herança
política de Balsemão foi traída no congresso da Figueira da Foz quando o seu
sucessor previsto e desejado, João Salgueiro, foi derrotado por um obscuro salazarista,
Cavaco Silva, num golpe urdido por Marcelo.
Balsemão
foi sempre fiel ao PPD, mais tarde PSD, mas o mesmo não se pode dizer do partido
em relação a Balsemão. Leonor Beleza e Manuela Ferreira Leite, sim, foram e são
dedicadas ao homem a quem o país deve o Expresso, a SIC e um império dos média
que não lhe sobrevive.
Vi durante
a noite uma legião de abutres a disputar o cadáver do falecido, a aproveitar o
palco e a fingir uma compunção que não tinham.
Não estou
triste com a sua morte. Estou grato ao falecido. Obrigado, Pinto Balsemão.

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