Marcelo no ocaso da presidência da República
Marcelo, o
mais arguto analista político e o mais insinuante intriguista do comentário
televisivo, depois de ver falhadas as aspirações executivas à Câmara Lisboa e a
PM, preparou paciente e metodicamente a caminhada triunfal para PR.
Entrou em
Belém com o entusiasmo dos que o elegeram, a aceitação de quase todos e o
alívio generalizado pela partida de Cavaco, um salazarista amargo, ressentido e
inculto.
Marcelo
foi uma lufada de ar fresco, uma janela de esperança para quem esperou ver em Belém
um conservador que ombreasse com o legado de Soares e Sampaio, democratas de
antes de 25 de Abril, a cuja altura Cavaco Silva não pôde corresponder por
falta de convicções democráticas e de estatura ética, cultural e cívica.
Com a sua inteligência,
cultura e empatia conquistou os portugueses. Até eu, que não sou magnânimo com
a direita, lhe dei o benefício da dúvida e lhe prodigalizei simpatia. Fui
benevolente quando começou a exorbitar as suas funções e a interferir nos
assuntos do Governo, até se ter tornado o líder da oposição de direita e perturbador
do regime.
Ao vê-lo
hoje, desiludido, incapaz de recuperar o brilho, a lucidez e a decência, já não
espero que termine com dignidade as funções. Pior, talvez por hábito, já é estorvo
para o Governo que lhe deve a existência. Ameaça tomar posição pública sobre a
ministra da Saúde, como se tutelasse os ministros e o governo não dependesse da
AR. E continua a falhar clamorosamente quando a Constituição e o regime exigem
a sua intervenção.
Basta
referir e o seu alheamento perante situações recentes, gravíssimas e
intoleráveis:
- O PM reconheceu
o Estado da Palestina e prometeu não permitir a passagem de armas para Israel, e
aterraram nas Lajes caças F-35 dos EUA que lhe eram destinados. Depois de ser público
o incidente e de problemas no próprio governo, na sua desfaçatez, disse que os
F-35 vinham sem armas, como se não fossem eles próprios armas altamente letais.
E o PR não chamou o PM a Belém!
- Um
membro do governo, Nuno Melo, equiparou 4 portugueses da flotilha humanitária
para Gaza, incluindo uma deputada, a «apoiantes do Hamas», um grupo terrorista
contra o qual Israel tem legislação severa, pondo em risco a sua segurança e o
regresso. E o PR não pediu explicações!
- Um juiz vigiado, espiado e georreferenciado teve a sua vida privada e contas bancárias devassadas porque as legítimas decisões jurisdicionais não terão agradado ao Ministério Público. Foi o mais grave atropelo ao Estado de Direito, depois da extinção da Pide. Foi perseguido três anos, sem que Lucília Gago, a PGR que escreveu o parágrafo assassino, que Marcelo lhe ditou, e Amadeu Guerra, PGR que Montenegro lhe impôs, impedissem tamanho ultraje à democracia e à independência dos Tribunais. E o PR permanece em silêncio!!! Não responde à inquietação e receio dos democratas?!
Como já escrevi, este PR tornou-se um ativo tóxico da democracia. Marcelo, depois de ter traído o Pai, Baltazar, o Filho, Nuno, e o Espírito Santo, Ricardo, deixou de confiar em Deus e espera agora a compaixão do Diabo.

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