Salazar e Ventura
Há em Ventura os 3 Salazares de que – segundo diz –, Portugal precisa, o que é, o que sonha ser e o que não pensa, com uma feliz coincidência, nenhum procriou.
O verdadeiro
não comentava futebol, tinha horror às câmaras de televisão e não exibia a sua
fé em público; o genérico é comentador, não sai do ar e leva o rosário no bolso
para mostrar durante os refluxos esofágicos.
Salazar
vivia em S. Bento, era avesso a multidões e parco em palavras; Ventura vive no
Parque das Nações, fala pelos cotovelos, adora ser escutado e dá mais
entrevistas num só mês do que o seu ídolo em toda a vida.
O ditador estabeleceu
a censura, a bufaria, as perseguições, a prisão, a tortura, o degredo e o
assassinato para os adversários; o 4.º Pastorinho ainda não.
O
verdadeiro lançou Portugal na guerra colonial e fez morrer jovens durante uma dúzia
de anos numa causa perdida, injusta e criminosa, e ficou impune. Hoje as tropas
não se arriscam sequer a reconquistar Olivença e quem as mandar morrer não fica
impune.
Salazar falava
pouco para não se contradizer; este contradiz-se para falar ainda mais.
O sinistro
estadista não se confessava, porque alegava que os segredos de Estado não se podiam
revelar, não se ajoelhava perante o clero e era este que se ajoelhava perante
ele.
Salazar prescindiu
do diretor espiritual do seminário e não o substituiu. E, porque eram outros os
tempos ou porque era mais casto, não foi publicamente suspeito de pedofilia.
Salazar
morreu na cama convencido de que era ainda o primeiro-ministro, e o André só
sabe como morreu Mussolini, o católico que prestou maiores serviços à Igreja
católica e de quem o Deus do André se esqueceu.
Salazar era sóbrio, não era palhaço, mas também era um homem a quem os portugueses insultavam a mãe. Em privado, naturalmente. Com Ventura ainda é às escâncaras.

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