Ramalho Eanes referiu como trágica a descolonização em que «milhares de pessoas foram obrigadas a partir para um país que não era o seu». Tem razão o ex-PR cujo papel importante na democracia e o silêncio o agigantou depois da infeliz aventura por interposta esposa na criação do PRD e da adesão à Opus Dei, sempre por intermédio da devota e reacionaríssima consorte, que devolveu o agnóstico ao redil da Igreja. Eanes distinguiu-se no 25 de novembro, como Dinis de Almeida no 11 de março, ambos em obediência à cadeia de comando: Costa Gomes/Conselho da Revolução . Foi sob as ordens de Costa Gomes e de Vasco Lourenço, então governador militar de Lisboa, que, nesse dia, comandou no terreno as tropas da RML. Mereceu, por isso, ser candidato a PR indigitado pelo grupo dos 9 e apoiado pelo PS que, bem ou mal, foi o partido que promoveu a manifestação da Fonte Luminosa, atrás da qual se esconderam o PSD e o CDS. Foi nele que votei contra o patibular candidato do PSD/CDS, o general Soares...
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Há alguns meses chamou o seu núncio apostólico (embaixador) na Irlanda como inusitada reacção às fundadas e justas críticas que o Governo irlandês – responsável pela administração da Justiça - teceu sobre o comportamento obstrutivo da ICAR relativo às investigações sobre abusos sexuais envolvendo clérigos católicos. Certamente que não esperava que essa afronta diplomática fosse inconsequente.
O Vaticano não consegue separar as relações entre Estados, regidas por convénios internacionais e códigos de reciprocidade, e o desejo de pretensos tratamentos de favor ou de excepção concebidos à sombra de arcaicos conceitos "nações tradicionalmente católicas". Logo, no seu julgamento de Estado teocrático, submissas. Todavia, este novo ciclo de tensões entre a Igreja e os Estados parece, sob o papado de Bento XVI, regressar ao espírito “ultramontano” que vigorou nos séc. XVII e XVIII e foi irremediavelmente apeado pela Revolução Francesa.
Mas a decisão irlandesa de fechar a sua embaixada no Vaticano não causaria tanta mossa se não existisse o receio de despoletar “contágios”. E aí (na possibilidade de contágio) é que existe uma relação entre a extinta jurisdição universal e os Estados modernos, democráticos e laicos.
O espúrio renascimento de um “entendimento exaltado” à volta de uma "autoridade papal" no terreno secular (que deverá ensombrar o pensamento de Ratzinger) não só é uma aberração histórica e política como um incontornável estorvo às (boas) relações entre o Vaticano e os Estados.
E haverá uns talibãs que vão mandar as nossas garotas para a praia vestidas de burka.
Com fé ou sem fé, vamos ter criar "cruzadas" para uma baita de uma luta que não se sabe como vai ser o fim.