Réforme Laboural en France et suicide politique….

Com os problemas do terrorismo, a crise dos refugiados, a ameaça de Brexit e o infindável escândalo dos ‘Panama papers’ a situação laboral em França tem passado ao lado dos assuntos da actualidade.

A reforma laboral de Manuel Valls está a crispar (deteriorar) profundamente o ambiente social em França. 
No último mês foram convocadas 6 manifestações que, rotativamente, envolveram 200 cidades. Trata-se de uma contestação nacional organizada pelos sindicatos CGT e estudantes, recheadas de violência policial link,  bem como manifestações espontâneas (“Nuit Debout” link) que reúne todas as condições para se transformar num incontrolável protesto público generalizado.

A reforma apareceu em público pela boca de Myriam El Khomri (ministra do Trabalho) como uma mudança visando criar novas flexibilidades às empresas para melhorar a competitividade da economia e introduzir novas protecções e novos direitos para os assalariados link.

Trata-se de uma 2ª. versão do projecto governamental já que a primeira era um tosco  decalque directo da filosofia neoliberal para as relações laborais.  Esta segunda versão introduziu pequenas alterações mantendo a filosofia inicial mas apertando as condições de avaliação das razões económicas ‘justificativas’ do despedimento e acabou por piorar as condições para a sua aplicação já que acrescentou à contestação popular a oposição das centrais patronais. Pior a emenda que o soneto.

Esta polémica reforma (Lei Khomri) criada sob o alibi da ‘flexibilização’ e da ‘competitividade’ (as razões são as mesmas para todo o lado) deverá ser discutida no Parlamento em Maio e tudo leva a crer criará um confronto insanável entre os seguidores de Hollande e Valls e os chamados ‘frondeurs’, socialistas ditos ‘primitivos’, que estão a elaborar uma contra-proposta, visando nomeadamente combater a desenfreada precariedade do emprego e as flexibilizações do horário de trabalho.

Uma profunda ruptura na maioria socialista vem detrás - tem raízes na deriva neoliberal do actual governo de Hollande - mas acentua-se cada dia que passa é o retrato do enterro anunciado para um conjunto de políticas económicas promovidas pelo actual Presidente e sustentadas (inspiradas?) por Valls e pelo ministro da Economia Emanuelle Macron.

Nesta perspectiva, mais não faz que aprofundar as contradições e os enganos em que assenta o actual clima político francês, uma governação que paulatinamente foi transitando do socialismo, ou da social-democracia (para os mais moderados) para o execrável modelo ‘social-liberal’, uma versão envergonhada do neoliberalismo adoptada por trânsfugas que no passado se apresentaram aos eleitores como sendo de Esquerda.

A pouco mais de 1 ano das eleições presidenciais os actuais governantes preparam uma longa quarentena da Esquerda no acesso ao poder em França. Se existe alguma coisa de concreto na dita ‘reforma laboral’ é a tentativa de suicídio colectivo da Esquerda em França. 
Um grave problema para os franceses e um passo nada bom para a Europa.

Comentários

Jaime Santos disse…
O que eu espero é que os 'frondeurs' apresentem um projeto político alternativo claro nas primárias do PSF. Um Sanders Francês, precisa-se! Porque de outro modo, a segunda volta das Presidenciais será disputada entre Marine Le Pen e Sarkozy (se este não for preso no entrementes)...
Manuel Galvão disse…
Anda muita gente esquecida com o que aconteceu com Dominique Strauss-Kahn, isto é, da forma como ele foi afastado selvaticamente da corrida presidencial.

Mas, pelos vistos a malta dos PS também anda a pular a cerca com recurso a offshors, aonde fazem todo o tipo de trafulhices que estamos habituados a atribuir à Direita.

Há males que vêm por bem pois, se não fosse aquela "camareira" que DSK seduziu num hotel dos EUA (que estampa de mulher!), hoje teríamos na presidência da França um suspeito deste calibre:

http://tempsreel.nouvelobs.com/justice/20160208.OBS4219/info-obs-affaire-lsk-une-signature-tres-embarrassante-pour-dominique-strauss-kahn.html

Aonde é que eu já vi isto?

Não é credível que mesmo os fondeurs sejam capazes de manter o velho Estado Social...
Jaime Santos:

Acompanho-o no vaticínio.
e-pá! disse…
As 'escroquerias' financeiras de DSK são um assunto mundo financeiro onde, de facto, o PSF não é um ‘partenaire’ inocente, nem desinteressado.
Todavia, segundo julgo, é um campo relativamente distante dos 'frondeurs'.

O problema é o futuro do PSF. A lei laboral vai coloca-lo à beira de uma cisão que já esteve perto na questão das propostas de alterações constitucionais consequentes aos ataques terroristas que ocorreram nos últimos tempos em Paris.
Acredito que chegou o momento do confronto entre Martine Aubry e François Hollande.
Neste momento a política francesa está centrada no seu terreno. Foi Ministra do Trabalho no tempo de Miterrand e da primeira-ministra Edith Cresson e, portanto, sabe do que está a falar.
Identificou claramente a matriz do actual código de trabalho, a que atribui a paternidade a Valls e a supérflua tarefa de apresentação a Khomri, com as propostas de há uma vintena de anos oriundas da Confederação Nacional do Patronato Francês (CNPF) link.

O problema é que uma eminente cisão no PSF não acarreta ganhos globais para a Esquerda.
Pode clarificar a política no interior do PSF mas não evita uma dramática fragmentação que a curto prazo pode servir a Direita (se Srakozy escapar aos Tribunais) e, pior, abrir campo à FN (se Marine Le Pen conseguir contornar o seu envolvimento nos ‘Panama Papers’).

Glosando o perene dirigente portista (P. da Costa): “a França bateu no fundo!”...

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