Silly season - O poder vitalício e hereditário
A tradição é um argumento perverso que não deixa de ser invocado, como se a tradição pudesse justificar a escravatura, a desigualdade entre os sexos ou o poder vitalício, entre muitas ignomínias que envergonham a Humanidade.
O imperador Akihito, filho e sucessor de uma geração de semideuses, avessa a semideusas, quis dizer aos súbditos do Império do Crisântemo, que pretendia abdicar, aludindo à idade e à saúde, o máximo que lhe foi permitido. No moderno Japão, onde desde o século XIX foi instituído o culto do imperador, nem mesmo depois de o general MacArthur ter obrigado Hirohito a dizer que não era deus, quando se rendeu no fim da guerra, levou os japoneses a descrerem de um deus que renegou a sua divindade perante a ameaça humana.
Os japoneses já encomendaram um novo imperador, igualmente com atributos divinos, ao irmão mais novo do atual, a quem, por tristeza, só saíram duas filhas, naturalmente sem dignidade para o cargo e para a adoração dos súbditos. O futuro imperador nasceu em 2006 e chama-se Hisahito.
A comunicação social portuguesa, atenta aos grandes problemas da Humanidade, não é alheia ao drama do Império do Crisântemo e ao sofrimento dos vassalos nipónicos e foi ouvir o presidente da Associação da Causa Real, António de Souza-Cardoso [sic].
O especialista pronunciou-se sobre a monarquia do Vaticano, a portuguesa, a japonesa e outras. Afirmou que as monarquias democráticas são sempre legitimadas pela vontade popular. “A aclamação constitui o símbolo dessa adesão” – disse.
Referindo-se à República Portuguesa – razão pela qual dou atenção ao ‘responsável pela defesa do ideal monárquico, em Portugal’ –, disse ter começado com uma revolução violenta e nunca ter sido sufragada.
Alguém explica ao ignoto zelador monárquico que a monarquia não foi sufragada, que a dinastia de Bragança teve dois reis oficialmente dementes (D. Afonso VI e D. Maria I) e um delinquente perverso, o Sr. D. Miguel, que lançou o País numa guerra civil sanguinária, e que foi o único que deixou descendência da família Bourbon, e pouco provavelmente da de Bragança?
Alguém lhe lembra que a família real espanhola, que tanto o seduz, é criação do maior genocida ibérico da História, que derrubou a República, democraticamente eleita, e deu um precetor fascista ao pai do atual monarca, cuja imunidade lhe foi garantida antes da abdicação?
O poder hereditário e vitalício não é apenas anacrónico, é atraso civilizacional e cívico.
Viva a República!
O imperador Akihito, filho e sucessor de uma geração de semideuses, avessa a semideusas, quis dizer aos súbditos do Império do Crisântemo, que pretendia abdicar, aludindo à idade e à saúde, o máximo que lhe foi permitido. No moderno Japão, onde desde o século XIX foi instituído o culto do imperador, nem mesmo depois de o general MacArthur ter obrigado Hirohito a dizer que não era deus, quando se rendeu no fim da guerra, levou os japoneses a descrerem de um deus que renegou a sua divindade perante a ameaça humana.
Os japoneses já encomendaram um novo imperador, igualmente com atributos divinos, ao irmão mais novo do atual, a quem, por tristeza, só saíram duas filhas, naturalmente sem dignidade para o cargo e para a adoração dos súbditos. O futuro imperador nasceu em 2006 e chama-se Hisahito.
A comunicação social portuguesa, atenta aos grandes problemas da Humanidade, não é alheia ao drama do Império do Crisântemo e ao sofrimento dos vassalos nipónicos e foi ouvir o presidente da Associação da Causa Real, António de Souza-Cardoso [sic].
O especialista pronunciou-se sobre a monarquia do Vaticano, a portuguesa, a japonesa e outras. Afirmou que as monarquias democráticas são sempre legitimadas pela vontade popular. “A aclamação constitui o símbolo dessa adesão” – disse.
Referindo-se à República Portuguesa – razão pela qual dou atenção ao ‘responsável pela defesa do ideal monárquico, em Portugal’ –, disse ter começado com uma revolução violenta e nunca ter sido sufragada.
Alguém explica ao ignoto zelador monárquico que a monarquia não foi sufragada, que a dinastia de Bragança teve dois reis oficialmente dementes (D. Afonso VI e D. Maria I) e um delinquente perverso, o Sr. D. Miguel, que lançou o País numa guerra civil sanguinária, e que foi o único que deixou descendência da família Bourbon, e pouco provavelmente da de Bragança?
Alguém lhe lembra que a família real espanhola, que tanto o seduz, é criação do maior genocida ibérico da História, que derrubou a República, democraticamente eleita, e deu um precetor fascista ao pai do atual monarca, cuja imunidade lhe foi garantida antes da abdicação?
O poder hereditário e vitalício não é apenas anacrónico, é atraso civilizacional e cívico.
Viva a República!
Ponte Europa / Sorumbático
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