Efeméride – 30 de outubro de 1975

Há 41 anos, o maior genocida da península Ibérica determinou que Juan Carlos passasse a ser o chefe de Estado interino de Espanha, sob o pseudónimo de príncipe.

O ditador não se limitou, durante décadas, a eliminar centenas de milhares de espanhóis em campos de concentração, execuções extrajudiciais ou na prisão, escolheu a natureza do regime e a pessoa que a quem endossaria a chefia do Estado.

Num país onde a coragem de enfrentar o ditador nunca morreu, a violência da repressão garantiu ao ditador a morte confortada com os sacramentos e a bênção do clero que foi seu cúmplice.

A ditadura clerical-fascista terminou com Franco, mas o novo regime nasceu do poder conquistado e mantido pela violência. Juan Carlos foi educado no fascismo e destinado a perpetuá-lo. O que o grotesco general não previu foi a obsolescência das ditaduras, os ventos da democracia, que varreram regimes militares, e a democratização da Europa.

A monarquia espanhola é uma herança do franquismo, a anomalia que o pavor manteve pelo medo de desenterrar o passado e reavivar chagas.

Há uma vaga de silêncio sobre as valas comuns onde jazem as centenas de milhares de vítimas que o franquismo, fria e metodicamente, foi assassinado depois de consolidado o poder contra a República democraticamente sufragada.

Hoje, 41 anos depois de um dos últimos atos discricionários do sociopata que deteve o poder em Espanha, não podemos deixar de execrar o último ditador peninsular e acusar as condições em que a monarquia foi restaurada.

O novo rei é o herdeiro vitalício de quem o genocida escolheu.

Viva a República!

Comentários

e-pá! disse…
Franco - em consonância com toda a Direita espanhola - sempre odiou a República.
No final da fratricida guerra civil, desde 1935 a 1947, Franco ocupou de facto o cargo de Presidente da República embora se afirmasse como sendo o 'caudilho'.

A Lei da Sucessão (1947) repôs a monarquia, com base no regresso a uma futura chefia do Estado da casa de Bourbon. Não foi decisão linear já que impôs - nominalmente - um sucessor meticulosamente preparado e que obrigou a jurar os princípios do movimento falangista. O natural herdeiro - conde de Barcelona - foi preterido por não se prestar a essas juras. Por outro lado o 'generalíssimo' passou a ocupar o cargo de 'regente'.

A morte de Franco e o período de 'transição democrática' que se seguiu trouxe às costa um encargo: Juan Carlos. O desejo de proceder a uma transição pacifica e os equilíbrios políticos dessa altura levou a que não fosse questionada esta mudança de regime imposta por Franco no final da II Guerra e acabou por ficar contemplada na Constituição de 1978.

Hoje, interrogamo-nos se a Espanha não terá esgotado o período de transição. A situação actual é pouco, ou nada, consentânea com a ideia de Estado Unitário defendida pela ditadura franquista e fundamento major da reposição da Monarquia.
Soluções federativas (com vários modelos em aberto) colocam-se no horizonte.

E a questão é: será 'normal' (institucionalmente) que a evolução da actual situação política para uma 'outra' Espanha plurinacional tenha como consequência o regresso à República?
Um inadiável problema que os espanhóis (e só eles) terão de enfrentar e resolver.
Manuel Galvão disse…
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/30/politica/1477857709_431438.html

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