Perplexidades _2 (bis) - Texto revisto e aumentado com a colaboração de e-pá
As monarquias e a religião
As monarquias são regimes anacrónicos onde a religião está sempre presente.
Nem a Coreia do Norte é exceção. Aquela fé no deus vivo, que encarna em cada nova geração da dinastia Kim, é um misto da teologia estalinista mais jurássica e da crença no sumo sacerdote que substitui a tiara por um exótico corte de cabelo.
Na Europa há uma monarquia teocrática eletiva, de carácter vitalício, onde o príncipe se mantém até à morte natural ou intercessão da Cúria. O monarca do Vaticano é eleito por uma assembleia de cardeais que creem na visita do Espírito Santo, uma pomba invisível, que leva aos concílios a luz que os ilumina na eleição de cada novo Papa.
E há uma outra, a de Andorra, um principado em que o casal de príncipes, até agora do mesmo sexo, é formado, pasme-se, pelo Presidente da República Francesa, às vezes ateu, e o bispo de Uriel, presumível crente.
Há ainda uma teocracia monástica no Monte Athos, mas não conta como monarquia por não ser designada como Estado. Por isso, ‘só’ restam 12, e não 13, na Europa, onde, até 5 de outubro de 1910, só existia uma única república.
A mais excêntrica das monarquias, promovida como instituição nacional, tradicional e venerável, é a do Reino Unido. O/a monarca reina em 16 das menos de 50 monarquias que resistem no mundo e descende da germânica Casa de Hannover com o pseudónimo de ‘Casa de Windsor’, exigido na sequência da I Guerra Mundial para purgar as origens e tornar-se tolerável aos sentimentos antigermânicos dos súbditos.
O modelo britânico é aquele em que a promiscuidade entre a monarquia e a religião está mais entranhada. Os monarcas são, desde Henrique VIII (séc. XVI), chefes supremos da igreja oficial do Estado – a religião anglicana. Em boa verdade, os súbditos comportam-se como cidadãos e não exigem ao líder religioso que acredite em Deus. Basta saber ler o discurso do trono, escrito e imposto pelo primeiro-ministro.
Comentários