Notas Soltas – outubro/2016
Espanha – O mês
principiou com a inevitável demissão
do secretário-geral do PSOE. O fracasso do apoio à esquerda e da unidade dentro
do PSOE, deixou o País e o seu futuro entregue à direita, e toda a esquerda
condenada a lutas intestinas.
Impostos – Os
benefícios e isenções fiscais da Igreja católica e a decisão de excecionar a
avaliação de cerca de cem Fundações canónicas, gera injustiça fiscal e torna
Portugal um protetorado do Vaticano, refém da Concordata, e sem coragem para a denunciar.
Hungria – O
referendo xenófobo convocado pelo governo ultranacionalista de Víktor Orbán,
para mobilizar a população contra o sistema de solidariedade europeu para com
os refugiados, fracassou por falta de quórum, mas foi claro o desafio à UE.
Colômbia – O
resultado do referendo adiou a possibilidade de findar uma guerra de 52 anos, através
das urnas, após 4 anos de diálogo entre governo e guerrilha (FARC). Seria um
exemplo a nível mundial, mas venceu a linha dura do ex-presidente Álvaro Uribe.
Deutsche Bank – A
situação financeira do poderoso banco alemão, a lembrar o destino do Lehman
Brothers, é uma ameaça para a economia global que os políticos germânicos
disfarçam com alusões danosas a Espanha, Grécia e, obstinadamente, a Portugal.
ONU – A aclamação
de Guterres como secretário-geral foi uma notável vitória pessoal. O PR, o PM,
o MNE e a diplomacia portuguesa venceram o Clube de Bilderberg, a CE, o PPE e a
Sr.ª Merkel, autores do golpe sujo que os humilhou. Dupla e saborosa vitória.
Reino Unido –
Tony Blair, um dos invasores do Iraque que enganaram o mundo quanto às armas
químicas, agora agente do liberalismo internacional, ameaçou voltar ao Partido
Trabalhista para o tornar um instrumento dócil dos interesses que representa.
Colômbia_2 – A
atribuição do Prémio Nobel da Paz ao PR, Juan Manuel Santos, apoia a iniciativa
de paz, que o referendo rejeitou, e reforça os acordos que evitem o regresso às
armas. A propriedade da terra, esse eterno problema, continuará pendente.
Bob Dylan – A
inesperada atribuição do Nobel da Literatura foi o prémio à novidade e
musicalidade da poesia a que deu voz. A harmonia e beleza emocionaram gerações.
Foi uma feliz decisão, a causar azia a quem tem da literatura uma visão redutora.
Açores – As eleições
regionais, com um número de deputados excessivo em relação aos habitantes, ditaram
a maioria absoluta do PS e a derrota ao PSD, com o BE a ganhar 1 deputado ao PS
e o CDS outro ao PSD, em clima de perigosa abstenção.
OE-2017 – Foi o
possível, com consciência social, num país refém de credores, onde a
especulação dos mercados tornou impagável a dívida. Com juros de 8,5 mil
milhões de €, só a renegociação permite o pagamento e a sobrevivência económica.
Dívida Pública –
É pura utopia pensar que Portugal, tal como a Itália, a Grécia e outros países,
pode pagá-la. Os juros de 8,5 mil milhões de € representam 4,3% do PIB. Todos
os governos fingirão que a vão pagar enquanto os credores fingirem que
acreditam.
Mundo – A multiplicação
de conflitos, com os milhões de mortos, feridos e refugiados, prenuncia uma
guerra devastadora, à escala global, com realinhamentos geoestratégicos que não
permitem a ninguém, em qualquer país, sentir-se seguro ou otimista.
Equador – A
restrição de acesso ao sistema de comunicação da embaixada em Londres, para
impedir J. Assange, fundador do Wikileaks, aí asilado, de influenciar as
eleições dos EUA, surpreende. O que levará Assange, tal como Putin, a preferir
Trump?
EUA – A eleição
de uma mulher seria jubilosa e estimulante se os acordos com grupos económicos duvidosos
a não pusessem sob suspeita. Trump, o impensável adversário, é a única razão
para a preferir. Vamos ter saudades de Obama.
Estado Islâmico –
A conquista de Mossul, por americanos, ou/e a de Raqqa, por russos, não o destrói.
Como à Hidra de Lerna, nascem duas cabeças quando lhe cortam uma, e o dragão já
tem uma cabeça de serpente na Europa.
Praxe académica –
As toadas de jovens caloiras atingiram o auge da obscenidade e da baixeza, na latada de Coimbra. Com centenas de
carros de compras roubados a grandes superfícies, a degradação ética e
intelectual foi a liturgia da integração
universitária.
Ciência – A
destruição da sonda Aschiaparrelli, em Marte, constitui um forte revés para a
ESA (Agência Especial Europeia). O desastre tecnocientífico debilita o
financiamento e compromete o avanço na exploração espacial. Foi um desastre
amargo.
Vaticano – A
Igreja católica continua a preferir a inumação dos mortos à cremação (vai longe
o tempo em que a destinava aos vivos), mas, anuindo à cremação, proíbe que as
cinzas sejam espalhadas, divididas por familiares ou conservadas em casa.
Impostos – É difícil aceitar as isenções e benefícios fiscais a
Fundações, IPSSs, ONGs, Associações, Misericórdias, Coletividades e muitas
outras instituições, sem a avaliação rigorosa da sua efetiva utilidade pública.
Há situações de chocante injustiça.
Imigração – O
número de mortos no Mediterrâneo bateu recorde anual no dia 26, com 3880
vítimas, segundo anunciou o porta-voz do Alto Comissariado das ONU para os
refugiados, a mais de 2 meses do fim do ano. É uma perturbadora tragédia sem
solução.
Espanha_2 – A
posse do governo do PP foi assegurada, mas a estabilidade política não ocorrerá.
Apesar da paradoxal melhoria económica com um governo de gestão, o futuro do
país vizinho ameaça radicalizar-se com as autonomias a corroerem o poder.
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