Passos Coelho e uma agónica ‘maestria’ de sobrevivência …
Passos Coelho aplaudiu a continuidade de Mariano Rajoy como presidente do Governo espanhol com avultados encómios à sua sagacidade política link.
Fica-lhe bem esta manifestação de solidariedade ‘inter-popular’. Ambos pertencem ao grupo ‘popular’, seja do partido europeu, Rajoy do PP espanhol e Coelho do ex-PPD (também ‘Popular’ e 'Democrático').
A leitura que o dirigente partidário nacional faz sobre a situação política espanhola é um acabado exemplo de como fantasiosas visões escondem questões de fé.
Viu na investidura parlamentar de Rajoy “o afastar da incerteza” quando nunca pairou tanta incerteza sobre um governo do pós-franquismo. Se as miragens pagassem imposto lá (e cá) estaríamos a ‘salvar’ o défice (pelo lado da receita).
Mas as visões podem alimentar armadilhas e mostrarem que o que aparenta não é. Coisas da política. De facto, como expressou o ex-primeiro ministro português foi recusado o radicalismo. Não no sentido que o veredicto popular expressou mas, no facto, de o eleitorado ter retirado a maioria a Rajoy que sofregamente aplicou durante a legislatura anterior um programa [radical] desenhado pela Direita radical (espanhola e europeia).
Depois, uma outra asserção é particularmente anedótica. Rajoy terá saneado o sistema financeiro espanhol à custa do ‘esforço popular’ mas essa dolorosa tramitação fez-se à custa de um empobrecimento nacional e de uma legião de desempregados que recentes índices de crescimento do PIB (objecto de repetidas reverências passianas) não significam qualquer tipo de reversão. O Rajoy hoje indigitado vai governar um País mais empobrecido do que aquele que encontrou em Novembro de 2011.
Finalmente, o elogio da "maestria" do dirigente do PP espanhol. Um inábil esforço laudatório já que poderemos estar perante um atestado de estupidez emitido pelo próprio adulador. Na mente de Passos Coelho as comparações sobre situações diferentes ficam pela rama e mais não reflectem do que um fugidio olhar ao espelho.
Na realidade, Rajoy governa porque a Espanha vive uma crise de regime que se entronca em múltiplos problemas (nacionalidades, autonomias e separatismo). O facto de ter perdido a maioria parlamentar e conseguir voltar a formar governo – o que continua a ser a ‘pedra no sapato’ de Passos Coelho - só foi possível pelo agravamento (aprofundamento) dos problemas internos dos partidos institucionais, emergentes e das formações regionais.
Andar a elogiar o que acaba por cavalgar uma efémera oportunidade (oportunista), como aquele (um ‘outro’) que é capaz de dar ‘um golpe de asa’, é o mesmo que confundir um guarda-chuva com a feira de Espinho.
A evocada ‘maestria’ que continua a habitar Moncloa mais do que um elogio parece um o famoso ‘canto do cisne’ (para continuar a ‘dar música’). Nunca existiu na Espanha pós-franquista tamanha instabilidade política como a que foi endossada, ontem, a Rajoy.
Em nome de evitar umas 3ªs eleições legislativas tolerou-se, através de uma abstenção táctica, que um modelo governo assente na mais aviltante corrupção e desprezo pelas pessoas, permaneça impune - e em funções - por mais algum tempo.
Quando a ‘maestria’ é sinónimo do prolongamento da agonia está tudo dito. Não é, contudo, avisado confundir o tempo (político) com um passatempo (diletante).
Um dos problemas da evocada maestria (do tempo) é que esse ‘maestro’, inexoravelmente, acaba por matar (e enterrar) todos os seus discípulos.
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