Notas soltas – julho/2017
Pena de morte – No
150.º aniversário da “Carta de Lei da Abolição da Pena de Morte”, (Lei de 1 de
julho de 1867), urge recordar que Portugal foi o Estado pioneiro da Europa na
humanização penal que é hoje paradigma da UE.
Simone Veil – Faleceu
a sobrevivente de Auschwitz, n.º 78561. A primeira presidente eleita do
Parlamento Europeu e ministra que fez aprovar uma lei de despenalização do
aborto no primeiro país de maioria católica [França], é uma enorme referência da
UE.
Catar – O
ultimato da Arábia Saudita, Emiratos Árabes Unidos, Egito e Bahrein não o
submeteu. Os interesses geoestratégicos do país, que também financia o
terrorismo wahabita, levaram-no a preferir, à submissão aos sauditas, a aliança
à Síria e Turquia.
Catalunha – A aspiração
de numerosos catalães à independência suscita a oposição de muitos outros, pelo
perigo de desagregação de Espanha e efeito dominó na Europa. A aventura catalã
seria um rastilho para a explosão de nacionalismos à escala europeia.
Turquia – A
prisão do responsável da Amnistia Internacional (AI) na Turquia, Taner Kilic, é
uma eloquente amostra do retrocesso civilizacional que o presidente Erdogan
prossegue, cheio de fé, alheio ao respeito pelos direitos humanos.
G-20 – A reunião
dos países que representam mais de 80% do PIB mundial chegaram a acordo na
defesa do comércio livre, mas tiveram a obstinada rejeição de Trump quanto à
luta contra o aquecimento global que ameaça tornar inabitável o Planeta.
Assunção Cristas
– A exigência da demissão do ministro da Defesa pela falha de uma unidade
militar contrasta com o silêncio que guardou perante provas de suborno, obtidas
por autoridades alemãs, na venda dos submarinos a Portugal.
ASJP – Quando uma
associação de juízes, membros de um órgão da soberania, ameaça o Governo, com
greve, põe em causa o funcionamento das instituições democráticas e a defesa do
Estado de Direito de que os juízes são a última garantia. Lastimável!
Estado Islâmico –
A derrota oficial em Mossul não erradica o polvo que resiste, com o
reconhecimento e a cumplicidade internacionais, em ditaduras teocráticas
medievais de que a Arábia Saudita é o mais tenebroso exemplo.
Donald Trump – Ivanka
Trump ocupou por duas vezes o lugar do pai, que participava em reuniões
bilaterais previstas na cimeira do G20. Fazer representar-se pela filha não é
um ato de nepotismo, é a postura e sentido de Estado do empreiteiro.
Aquecimento global
– Como previsto por cientistas, separou-se da Antártida o imenso iceberg, do
tamanho do Algarve, com 200 metros de profundidade, um monstro à deriva e de
destino incerto, cujos riscos para a navegação são a preocupação imediata.
Agência Europeia do
Medicamento – A candidatura do Porto, para quem conhece os funcionários de
grandes agências europeias, significa que o Governo já a sabe perdida, e
satisfez habilmente o bairrismo, ou que a perdeu com esse erro colossal.
Brasil – A
condenação de Lula da Silva, que reputados juristas dizem política, mostra a
captura do poder executivo por magistrados. O Governo não pode ficar refém de
juízes nem estes sujeitos ao poder político. A democracia exige a separação de
poderes.
Eutanásia –
Portugal acabará por seguir a tendência de outros países, mas era útil uma
discussão sobre um assunto tão delicado, sem ficar à mercê de impulsos
irrefletidos ou prisioneira de preconceitos religiosos. Os radicalismos
envenenam a reflexão.
Polónia – Tal
como a Hungria, desde 2010, o despotismo ameaça a UE. O controlo do STJ destruirá
a democracia. As ditaduras assustam a UE, somando-se às derivas checa e
eslovaca e às oligarquias corruptas da Bulgária e da Roménia, todas por via
eleitoral.
Turismo – Dois
milhões de passageiros não poderão aterrar no aeroporto de Lisboa, em 2017, por
falta de capacidade. Apesar da memória curta, o país não esquece a oposição demagógica
de Durão Barroso à construção de um novo aeroporto.
Incêndios – Se
não bastasse a desgraça que anualmente nos flagela, e este ano atingiu a
dimensão de tragédia, de proporções sem precedentes, ainda há quem explore as
mortes para fins eleitorais. À incúria de todos junta-se a falta de pudor de
alguns.
PS – A saída do
PS do ex-deputado Henrique Neto, cuja candidatura a PR o reduziu à devida
dimensão, foi uma opção tão legítima como a sua saída do PCP, num percurso idêntico
ao de Zita Seabra, apenas mais lento, e não merecia tão grande alarido.
Filipinas – O criminoso
presidente, Rodrigo Duterte, prometeu acabar com drogados e traficantes, mas,
em vez da reinserção social, apela a execuções sumárias. A estratégia consiste
em execuções extrajudiciais que já provocaram mais de 9400 assassinatos.
Desemprego – As
alterações à política do anterior governo, e uma conjuntura favorável, geraram
uma drástica redução do desemprego, mas não haja ilusões. O trabalho é um bem
cada vez mais escasso e urge distribuí-lo, tal como à riqueza produzida.
Coreia do Norte –
O ditador lança mísseis para chantagear o Japão e a Coreia do Sul, e os EUA
respondem com bombardeiros a sobrevoar a península. Com dois líderes pouco
confiáveis, a única certeza é o perigo iminente à escala planetária.
Eleições Autárquicas
– O candidato Ventura, em Loures, racista e populista, disse que “vivemos num
marasmo há 40 anos”. Um imbecil municipal passou a imbecil nacional quando o líder
do maior partido da AR reiterou o seu apoio a um fascista.
Comentários
Em que consiste exactamente a novidade ? Só agora se começaram a formar icebergs?
Mas penso que também estou no direito de concluir quão longe andava do PS quem vai a correr publicar no "O Diabo".
Conseguiu sem dúvida ultrapassar a Zita Seabra, cujo salto, embora grande (mas o salto menor de Vital Moreira teve efeitos práticos muito semelhantes, refira-se), me parece mais consentâneo com uma postura democrática.
Nem sei que mosca lhe mordeu para sair do PS, já que era manifesto o jeito