Os padres, o Eng.º Ricardo Robles e o Bloco de Esquerda

Não está provado que a pedofilia tenha maior incidência nos membros do clero católico do que nos de outros grupos socioprofissionais que convivem com crianças, professores, assistentes sociais, médicos, enfermeiros e catequistas, ou nos de outras religiões.

O que torna o clero católico particularmente vulnerável perante a opinião pública é a sua obsessão moralista, que acrescenta à gravidade do crime a imensa dose de hipocrisia dos perversos. Quem vê na castidade a virtude e via para a santidade, não pode sequer amar. A paternidade do clero, dissimulada pela imposição do celibato, tornou-se escândalo. A vulnerabilidade católica resulta do escrutínio das sociedades democráticas, ao contrário do que ocorre em teocracias, sejam islâmicas, a monástica do cristianismo ortodoxo, do Monte Athos, ou a do Vaticano.

No mercado da fé, a destruição dos adversários é uma arma pela conquista dos fiéis dos outros, tal como na política, onde a sanha aos políticos concorrentes faz parte da disputa eleitoral. Não exige crime, basta a incoerência grave que, no caso de Ricardo Robles foi agravada por ser fundador do BE e dirigente qualificado. Não podia beneficiar da Lei Cristas, que zurziu, ainda que para negócios legais, mas reprováveis segundo os valores que defende. Grave foi atrair a solidariedade afetiva da líder do BE, que a honra como pessoa e a desprestigia como política. Foi, aliás, o erro político de Catarina Martins, que não previu a dimensão dos danos a que o pretexto deu origem.

O que torna mais obscena a campanha orquestrada pela direita, onde procura envolver o Governo e todos os partidos que o sustentam na AR, é a displicência com os seus esqueletos: subornos dos submarinos; fraude de 6,7 milhões de euros que a UE provou e cuja restituição exigiu, dinheiro que Miguel Relvas atribuiu à Tecnoforma de Passos Coelho; o esquecimento da exigência à PGR para reabrir o processo a essa fraude, que admitiu fazer e se esqueceu; o inquérito à forma de pagamento e às circunstâncias da compra e venda das ações da SLN, não cotadas em Bolsa, de Cavaco Silva e filha; o esquecimento sobre o que se passou com a banca (BES, BPN, Banif, BPP) e o extravio de 3 mil milhões de euros, após a resolução do BES, nos dias que se seguiram.

Não aprovo a especulação de Ricardo Robles, mas não vi o desassossego de jornalistas, comentadores e dirigentes da direita, preocupados com as vivendas da praia da Coelha, depois da falência do BPN, para saber se foi questão de sorte dos felizes contemplados com as casinhas e transparente a aquisição ou se houve ali dinheiros desviados do BPN.

Nesses casos os jornalistas que ora entraram em frenesim, a D. Cristas, os comentadores do PSD e as televisões foram sóbrios ou omissos nas explicações pedidas. Os eventuais desmandos dos ministros do cavaquismo não preocupam a direita que encobre os crimes dos seus e berra, ulula e crocita com negócios imobiliários de um vereador do BE.

Nem um PR e três PMs dos seus lhes mereceram tamanha preocupação. E houve razões para que a Justiça, em vez de publicar vídeos cinematográficos com quedas simuladas no elevador que ultrapassou o prazo de revisão, devia ter procedido a averiguações.

Com temperaturas sem precedentes a aproximarem-se, os incendiários não esquecerão o episódio Robles e juntarão os fogos que aguardam ansiosos, ateados ou não por eles.

Aliás, imitam o PP espanhol, atolado em corrupção, a explorar até à náusea a aquisição de um luxuoso apartamento pelo casal de dirigentes do Podemos.

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