A direita no seu labirinto

O PSD anda em polvorosa, como é da tradição, quando está fora do poder e minguam os lugares para quem se julga ungido para os ocupar. Luís Montenegro cometeu um erro que dificilmente lhe será perdoado, desafiando o líder num dos piores momentos que o partido atravessa e quando o seu desespero pode acelerar a implosão, com benefício dos partidos à sua direita (do PSD, não de Montenegro, Passos Coelho ou Maria Luís).

Não é fácil ser homem de mão de Passos Coelho e tentar um golpe para fazer regressar à AR a tralha que vendeu as principais empresas do Estado ao preço da uva mijona.

A Dr.ª Cristas é a mais perseverante adversária do PSD, embora sem tropas e qualidades de comando, mas Santana Lopes, cujo passado autárquico, governamental e de gestor da Misericórdia de Lisboa devia ter vacinado os eleitores, pode ser o grande beneficiário da derrocada eleitoral do PSD, que Montenegro acelerou de forma canhestra.

Há na esquerda quem se sinta feliz com esta dissolução da direita, sem pensar que a pior direita ainda não apareceu. O Menino Guerreiro, num país de memória curta, pode vir a ser o fiel da balança, a roçar os extremismos que grassam na Europa. E até já se permite ser arauto da luta contra a corrupção. Quem diria!

O PR, com a enorme popularidade de que ainda dispõe, tem força e vontade suficientes para impedir a esquerda de crescer de forma consistente, mas mingua-lhe a capacidade para travar uma onda populista de extrema-direita.

A direita representa um terço das intenções de voto, mas tem enorme poder nos sectores económicos e financeiros, na comunicação social e aparelho de Estado, nos bombeiros e IPSSs, nas fundações e Ordens profissionais e, pasme-se, nos sindicatos selvagens que emergem através das Ordens.

A direita dissolve-se, sem ideologia nem projetos, e unir-se-á em torno dos interesses, enquanto a esquerda se digladia, com forte ideologia e projetos que tendem a dividem.

A agitação social, onde coexistem reivindicações justas, difíceis de atender, e exigências obscenas, indignas de acolhimento, têm constituído o caldo de cultura de que a direita precisa para eleger a ordem e a segurança como trunfos para eliminar direitos e incitar a rivalidade entre trabalhadores do sector público e do privado.

Em França já é claro que a grande beneficiada das manifestações dos coletes amarelos é a extrema-direita de Marine Le Pen. Espero que o exemplo seja vacina em Portugal.

Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Ad libidum vs ad nauseam…

Nos últimos tempos os portugueses foram confrontados com o estrebuchar, dentro do PSD, de uma situação absolutamente esperada e previsível.
Algum dia teria de suceder uma clarificação e, de facto, ela aí está porque não seria possível continuar a fingir um ‘fair play’ que na realidade não existe. O problema do PSD fazer oposição ao actual governo não nasce com Rui Rio sendo bem visível e notório quando Passos Coelho, quando apeado de 1º. Ministro, continuou a dirigir o partido e se entretinha com místicos anúncios da vinda do diabo. A diferença é que Passos Coelho ‘dominava’ a estrutura partidária a começar pelo grupo parlamentar e controlava a contestação interna. Rui Rio é eleito líder do PSD e obrigado a viver num lodaçal literalmente armadilhado. De facto, desde há 1 ano que os ‘críticos’ nunca deram o corpo ao manifesto, fazem-se de ‘mortos’ no grupo parlamentar mas, na realidade, têm andado entretidos com chicanas políticas sobre a arte de bem cavalgar a feitura de uma ‘eficaz’ Oposição.

Nos últimos dias os críticos de Rui Rio desfilam diariamente pelos órgãos de comunicação social com argumentações absolutamente mirabolantes.
Já não vou falar de Montenegro que tem um percurso e ambições mais do que conhecidas e reveladas mas a minha atenção centrou-se nas perorações de um jovem turco alinhado com a facção ‘passista’, moribunda, mas não extinta, de sua graça Hugo Soares. Este ‘político’ quando da mudança de direcção política do seu partido achou que tinha o direito de continuar a dirigir a bancada parlamentar. Foi a primeiro alerta e também a primeira refrega interna. Tentou resistir e foi apeado porque, na realidade, não é o grupo parlamentar que define a política do partido mas vice-versa. Então, o alardear de uma idílica autonomia da bancada só serve para entreter incautos.

Pouca gente entende que, com o desfecho das eleições internas no partido, Hugo Soares não colocasse o cargo de líder parlamentar à disposição da nova equipa dirigente. Muitos menos se entende que resolvido o primeiro confronto na bancada parlamentar Hugo Soares não tivesse suspendido o mandato e regressado às pias origens na Bracara Augusta.
Decidiu armar-se em vitima e num prestigioso delírio metafisico equiparou-se um ‘novo Cristo’ link para quem Rui Rio prepararia uma imolação ou a crucificação. Remata, que não é necessário preciso porque segundo sublinhou: ‘sairei pelo meu próprio pé’…

Ninguém foi capaz de retorquir a esta manipulação transcendental e perguntar porque não o fez em devido tempo, isto é, há 1 ano atrás.
Hoje, independentemente do resultado a que o Conselho Nacional do PSD chegar, Hugo Soares só tem duas alternativas: ou saí escorraçado ou, ficará a atolado nas águas turvas de um ‘passismo démodé’ que espreita atrás da cortina de fumo, lançada há 1 semana por Luís Montenegro.

E a comunicação social continua a presentear-nos diariamente com sucessivos exemplos destas relapsas vitimizações, ad libidum… . Ou melhor, ad nauseam

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