As capitais da indigência mental

Em dezembro de 2018, o edil da Guarda designou a cidade ‘capital do Natal’. Escrevi aqui um texto, a troçar deste capricho dos autarcas, quererem ser presidentes de capitais, umas sazonais, outras vitalícias, algumas referentes à gastronomia outras à botânica, nunca em homenagem à cultura ou às artes.

Do queijo ao requeijão, da chanfana ao ensopado de borrego, das migas ao caldo verde, do cabrito ao leitão, das amendoeiras às oliveiras, das alfarrobeiras às batatas de semente, há capitais de tudo para todos os gostos da frivolidade autárquica.

Um velho amigo e conterrâneo, excelente escritor, Jorge Carvalheira foi ao meu livro Ponte Europa e publicou no seu blogue «Ladrar à Lua», o texto que aqui deixo, para mostrar a minha reincidente preocupação:

 «A capital do Natal

Em 2006 o Barroco Esperança publicou as Pedras Soltas, uma colectânea de crónicas que estão aí para se ler. E é logo no preâmbulo que ele inicia a fuzilaria contra o despautério. Sabendo nós que o Ruas foi parar à Europa pela mão do PPD, (pois quem!) cabe-nos a nós manter a memória viva e lembrar Viseu e o pai natal. Demos a palavra ao Esperança.

Li no Diário das Beiras uma interessante reportagem de Isabel Bordalo com o título: Viseu quer ser capital do Natal.

Diz mesmo que Fernando Ruas reclama para Viseu o estatuto de Capital do Natal.

Aqui está uma ideia que, podendo não ser boa, é, pelo menos, original.

Já tínhamos as capitais do Norte, do Centro e do Sul.

Já havia as capitais do rock, do jazz e da música pimba.

Já havia a capital da amendoeira e a da alfarrobeira, falta ainda a capital do pinheiro bravo.

Já tínhamos a capital do queijo, a do leitão e a do vinho verde.

Portugal tem imensas capitais. Mas faltava-lhe a do Natal. (…)

Permita-se-me que, com a devida vénia ao autor, proponha Lamego para capital da Páscoa, a Guarda para capital da quinta-feira da ascensão, e finalmente a minha aldeia para capital do 4º domingo depois do Pentecostes.

Ficou enxofrado o pio edil (…) e reiterou à mesma jornalista a obsessão de fazer de Viseu a capital do Natal.(…) Mas logo me dei conta de que o sr. presidente era muito novo para sonhar com São José, demasiado crescido para aspirar a Menino Jesus e excessivamente hirsuto para pretender ser a Virgem Maria.(…)

Tento ainda pôr termo à espiral reivindicativa temendo, a seguir a Alcobaça ou a Nazaré, os extremos a que pode chegar o presidente das Caldas da Rainha.»

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