Bolsonaro e a inteligência

Catedral de Brasília

Quando Bolsonaro, cuja cultura não ultrapassa a de um almocreve e a sensibilidade a de uma lagosta, descobrir que as obras emblemáticas de Brasília se devem ao empedernido comunista Oscar Niemeyer, vai certamente explodir de raiva.

Quando souber que o Palácio do Planalto, a Catedral, o Palácio da Alvorada, o Museu Nacional Honestino Guimarães, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio Itamaraty e o Teatro Nacional são obras de um dos maiores expoentes da arquitetura mundial, e que o criador era um comunista da linha mais ortodoxa, há de pensar que a arquitetura é uma subversão e que as formas afrontam a fé, são um hino aos Direitos Humanos e o convite à emancipação do povo brasileiro.

Trágico, pode ser o humor do capitão abrutalhado, presidente inepto e evangélico que crê o mundo foi feito em 6 dias e o Brasil um país para arruinar em dois mandatos.

Num misto de fé e de raiva, pode destruir à bomba edifícios que lembram a convivência democrática de ideologias diversas e o benefício que brasileiros ilustres levaram ao país, e seguir o exemplo dos talibãs que destruíram os Budas de Bamiyan, do Vale do Bamiyan, no Afeganistão.

Nunca se sabe o que pode fazer um troglodita assim, quando ouve falar de arte ou de cultura, talvez puxar da pistola como desejava o general Millán-Astray e gritar "Viva a Morte!».

Bolsonaro não gastou tempo a ler Jorge Amado, Machado de Assis, Erico Veríssimo ou mesmo Paulo Coelho, e muito menos os poetas Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes ou Manuel Bandeira, ele sabe lá o que é um poeta!

Talvez por isso, o brasileiro culto esteja a sonhar com um poema de Manuel Bandeira:

«Vou-me embora pra Pasárgada»

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contra-parente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro bravo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

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