As praxes e as Universidades


Neste antigo reino, onde a clerezia era influente, foi criada a Universidade que os padres dominavam. A teologia era a ciência oculta que a engrandecia, a única sem método nem objeto. Os padres, geralmente cultos, dominavam o conhecimento, que divulgavam com a superstição, à mistura, vigiando as heresias e proscrevendo os réprobos.

Durante séculos foi única, os hereges eram banidos e tinha lugar de relevo a fé. Depois de numerosas vicissitudes foi arejada pelos ventos do liberalismo e a laicidade penetrou naquele antro com odor a sacristia.

O reino passou a República e a laicidade, que era a prática, a obrigação. Veio a ditadura depois e, mais tarde, uma democracia moderna. No eterno retorno, as vestes talares dos docentes e discentes foram o veículo da recuperação das piores tradições e da criação de outras que contaminaram numerosas escolas, às vezes em vãos de escada, com cursos exóticos e diplomas por equivalência, sem dispensarem as praxes.

As cerimónias iniciáticas substituíram o vinho pela cerveja na consagração académica, e o sexo, simulado ou explícito, saiu à rua. Há escolas onde uma caloira exibe um mamilo por um copo de cerveja, os dois por outra bebida, com a saciedade a privar do êxtase a turba gulosa, enquanto um colega exibe o traseiro, de borla, perante o fastio geral, antes de cair de bêbedo.

A entrada faz-se com carros roubados a supermercados, desfilando de pijama e cartazes vexatórios pelas ruas das cidades, e a saída com a bênção das pastas. Da cerveja à água benta, em três anos de Bolonha, ficam fotos que comprometem e desatinos que pontuam a futilidade de atos embaraçosos, na ausência de causas para quem se presta a humilhar e a ser humilhado num percurso onde a ciência devia ser o objetivo e a genuflexão uma postura a evitar.

Mas há coisa mais bonita do que ver estudantes em coma alcoólico ou enlevados com a aspersão da água benta na cabeça, na batina e na pasta?

Ámen. 
Ponte Europa / Sorumbático

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