Os palpites e intrigas de Marques Mendes (MM)

Ao contrário de Marques Mendes, não costumo pronunciar-me sobre processos judiciais em curso nem enxovalhar presos. Prezo demasiado a liberdade, e não aceito usar para quem está privado dela a ironia ou o sarcasmo sobre a sua situação.

Mingua-me a coragem para combater quem já está constituído arguido ou se encontra em julgamento e, depois de preso, ainda me sinto mais constrangido.

Eis porque passei a desprezar Marques Mendes, o mais bem remunerado comentador ao serviço da Direita e o paquete de Belém cujas encomendas os jornais e as redes sociais ampliam. Claro que tem direito à opinião própria e à pedida, à sua intriga e à dos rivais de Rui Rio, líder que se imola por mérito próprio, sem precisar de adversários.

Frequentou aulas de ética com o ex-vice-presidente do PSD, Joaquim Coimbra, que o empregou em uma ou várias das suas numerosas empresas, e doutorou-se nos princípios éticos com que foi gerido, por um seu colega de governo, o BPN.

Os ensinamentos do homem mais sério de Portugal, que, para ser ultrapassado, alguém tenha de nascer duas vezes, contagiaram o seu mais dedicado adjunto.

Esquece que fez parte do governo que deu um canal televisivo à Igreja, beneficiando a mais inconsequente das candidaturas por subserviência pia e demagogia partidária; não tugiu nem mugiu quando Bagão Félix demitiu por fax, de uma só vez, 18 diretores e outros tantos subdiretores da Segurança Social, arrastando no saneamento os que, sendo do PSD, resistiram aos 6 anos de Guterres; foi controleiro da RTP num dos governos de Cavaco Silva e só revelou coerência quando foi líder do PSD onde terá aprendido que, sem coragem, não chega a coerência. Deixou-se humilhar por Alberto João. E caiu.

Os recados alheios, às vezes, vêm envenenados. MM, sabendo que a sua Direita queria manter a PGR, só para condicionar o PM, apesar da própria e do PR terem considerado o mandato único, afirmou que seria um enorme escândalo se não fosse reconduzida. Marcelo enganou-o bem e MM meteu a viola no saco.
     
Não li que tivesse censurado Paulo Rangel na última campanha eleitoral europeia, com as referências permanentes a Sócrates e aos incêndios, a Sócrates e ao seu colaborador António Costa, a Sócrates e a Tancos, a Sócrates e à CGD, talvez por saber que Rangel era o candidato unânime do PSD.

Podia ter feito uma referência à flagrante contradição de Paulo Rangel, confrontado por um jornalista, quando um seu companheiro de lista foi constituído arguido, e declarou:   
“Sobre estes assuntos eu comunico sempre da mesma maneira: as questões que têm a ver com a justiça, é a justiça que tem de as resolver, elas não devem interferir com a política e com o seu normal devir”.

Neste caso, como é hábito, MM aos costumes disse nada.

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