O 11 de junho, o PR e o Dr. João Miguel Tavares no 10 de Junho

Arredado dos noticiários televisivos, por razões de higiene, li depois os discursos do PR e do seu alter ego, nomeado para presidir às comemorações do 10 de Junho, em Portalegre.

Soube que o 10 de junho é quando o presidente quiser. No dia 10 foi em Portalegre e, depois de atribuir 4 medalhas de ouro a outros tantos estandartes, na Cidade da Praia; e, no dia seguinte, em Mindelo, Cabo Verde, país que tem 21 mil emigrantes portugueses, onde apenas se julgava que, além de turistas, só havia 1, Dias Loureiro, o paradigma de empresário-modelo, assim designado pelo académico-padrão Passos Coelho.

No seu discurso, o PR nomeou portugueses ilustres espalhados pelo mundo. Dado que todos eram ex-governantes do PS, deixou, para compensar, ao presidente da comissão organizadora das comemorações, um truculento jornalista da área do PSD, a leitura de uma redação com a narrativa política de Passos Coelho.

Não se esperava do Dr. João Miguel Tavares a grandeza, a eloquência e a elegância de Sampaio da Nóvoa, num dia igual, nas mesmas funções, noutra cidade, e podia poupar-nos à biografia narcisista do lugar onde nasceu, viveu e cresceu, à árvore genealógica, ao número e nome dos filhos, às suas habilitações literárias, à vida e à vinda dos sogros, de Moçambique, distraído de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Regressou aos incêndios de Pedrógão e usou o púlpito como extensão do seu espaço no jornal Público, onde, no dia seguinte, foi reproduzido em duas páginas, 10 e 11, para vazar o azedume, onde concluiu que «…quando se trata de refletir sobre o nosso papel enquanto cidadãos, parte de uma nação e de um tecido social e político comum, colocamos uma mola no nariz e dizemos que pouco temos a ver com isso porque os políticos não se recomendam.». O jornalista, na sua indigência, afrontou quem lhe fez o convite, um político com meio século de legítima militância, o PR.

Não foi um discurso comemorativo, foi um extenso arroto da flatulência fermentada na nostalgia salazarista, na memória do “nosso Ultramar infelizmente perdido” e na moral de que só a direita é portadora.

No dia 10 de Junho, o PR fez uma escolha infeliz, confiou o discurso do dia a quem só podia dar o que deu, da forma que sabia, transformando o feriado nacional no medíocre comício populista. Camões merecia melhor.


Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

e-pá! disse…
Olhando sob a perspetiva da Direita e segundo a sua cartilha já estaríamos todos a gritar que a intervenção de João Miguel Tavares seria um 'erro de casting'.
E o erro não passa pelo relato das dificuldades de trajeto pessoal nem pelas vicissitudes da vida decorrentes de um 'provinciano' (existem muitos portugueses neste grupo) que em algumas partes afloraram na sua intervenção. O relato de uma realidade sociológica particular pode impressionar mas existe à volta (dessa realidade) questões de fundo habitualmente não dissecadas e muito menos mencionadas.
Um conjunto de iniquidades (que são claramente referenciáveis na retórica produzida) não retratam o 'sistema' com rigor e clareza e, na ausência dessa abordagem, ficamos pela 'espuma das coisas'.
Os males do 'Mundo Rural' e a assimétrica discriminação do desenvolvimento que, entre outras coisas, geram desigualdades de oportunidades, não são obra do acaso. São questões de regime mas a Direita bem lá no fundo defende o 'status quo' e não está disponível para questionar regimes, nem agitar consciências (neste caso sociais e cívicas).
João Miguel Tavares, como homem de Direita (que é e não esconde), ficou pela casuística. Há, todavia, mais Mundo para além dessa casuística que, para alguns, não interessa enunciar nem discutir.
Como jornalista JM Tavares deveria intuir que um grande número de portugueses esperaria que, no Dia de Portugal, se fosse além de interrogações abstratas e o enunciado de um rol de iniquidades e se questionasse tudo. passado, presente e futuro.
celestemartins disse…
Desconfio que a escolha de JMT teve dedo e conselho do colega de painel no Governo Sombra. Mexia tem aquela afinidade meio cúmplice com o orador de banalidades.

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