O PR e a democracia
Por entre vichyssoises, passeios noturnos ao Beco do Chão Salgado, gelados e moscatel quente, o dissolvente PR arruinou irresponsavelmente as instituições democráticas.
Sabia que o crescimento robusto da economia e a folga orçamental
do Estado podiam prorrogar o poder ao PS por mais uma legislatura e conduzir o
PSD ao declínio. E, não lhe permitindo o ego a irrelevância a que a maioria
absoluta do PS o remetera nos anos que ainda faltavam para o fim do seu
mandato, entrou em desespero.
Há de ter estudado todos os cenários e espreitado todas as
oportunidades, mas nem os incêndios anuais lhe permitiam demitir mais um
ministro! Destruiu na praça pública o ministro Galamba e, até aí, falhou,
graças à determinação do PM de não lhe tolerar a calúnia dizendo ao País que
era positiva a sua avaliação e o mantinha no Governo.
De cabeça perdida, com o poder efetivo de que dispõe, dissolveu
mais uma vez a AR. E conseguiu o que pretendia:
Alterou a correlação de forças entre a esquerda e a direita
e entregou as comemorações do 25 de Abril a quem a data nunca entusiasmou, a
Saúde a quem nunca quis o SNS, as vias férreas a quem prefere o betão, e tudo o
mais que é possível privatizar.
Tem agora um Governo e uma maioria para si e, pela primeira
vez, depois de oito anos, o PSD a ocupar os altos cargos do Estado de que
estava sôfrego após tão longo jejum.
Já mostrou que detém o poder. Nem disfarça quando revela que
já tem o perfil para o/a novo/a PGR, … e que é ele quem o/a nomeia, o
Governo só propõe.
O Governo mantem-se em campanha eleitoral, não vá o Diabo
tecê-las, e quer para si a estabilidade que o PR comprometeu no seu
aventureirismo. E ambos procuram tornar irreversível o golpe que alterou a
geometria partidária.
Nem a Constituição respeitam na regulamentação da lei da
eutanásia porque, para eles, a CRP é só um conjunto de normas a violar à medida
dos seus interesses e preconceitos.
O PR e o Governo sabem que o OE/25 será viabilizado, mesmo
que o PS não ceda à sua chantagem. O Chega não quer novas eleições porque perde
demasiados deputados para o PSD. Ventura, se não der o dito por não dito, viabilizando
agora o Orçamento, fá-lo-á depois, com ou sem Montenegro, com metade dos
deputados.
A democracia sofreu um rude golpe e pode não se ressarcir
dos golpes desferidos a partir de Belém pelo último e pouco recomendável
inquilino.
A correlação de forças permitirá a continuação de um governo de direita e a eleição do futuro PR escolhido por Marcelo e Montenegro, salvo se for Passos Coelho a avançar, levado aos ombros por Ventura sem que o PSD se possa opor. E tem cadastro suficiente!
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