Divagando (3)
Metáfora: – #montenegronaomarcelonunca
Com o País a fazer o luto das mortes dos incêndios e a
lamber as feridas da devastação de mil e quinhentos quilómetros calcinados
surgiu hoje o equinócio do Outono.
É agora fresco o ar que se respira, mas permanece o nosso
sufoco, sem esperança que nos liberte do pesadelo, sem uma luz que nos ilumine a
saída do dédalo a que a última dissolução da AR nos conduziu.
Sabemos como chegámos aqui, mas não descortinamos como sair
do buraco negro. Será o castigo da nossa incúria ou do delírio que aguardava D.
Sebastião, doente e fanatizado pelo clérigo que dele abusava?
Ficamos de joelhos à espera de Alcácer Quibir, a batalha
perdida, onde morreremos sem glória, ou empunhamos a lança para derrubar estes
solípedes a quem aparamos os coices enquanto relincham de gozo?
Escolho ser o Sancho Pança que segue qualquer D. Quixote,
por onde quer que me leve, pois sei quem perdeu a razão e o tino, e recuso que
faça de mim Rocinante quem abana a crina no estábulo do poder e é mais louco do
que o cavaleiro da triste figura.
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