O problema das alianças

 A leviana dissolução da AR pelo irrequieto PR teria sempre trágicas consequências, mas não é crível que fosse irrefletida, dada a militância ideológica do comentador que jamais deixou de ser e de ex-líder do PSD, a que regressou.

É de crer que, salvo o empate do número de deputados do PSD com o PS e perda da sua dignidade e do respeito, o que ora acontece foi previsto ao pormenor, incluindo o insólito aviso na véspera das eleições a anunciar, num grosseiro atropelo à CRP, não dar posse a um governo apoiado pelo Chega.

É evidente que, nesse caso, como em muitos outros, fingiu ter uma competência que lhe minguava para tal decisão, à semelhança da de Cavaco na recusa de posse ao Governo PS, com apoio parlamentar do PCP e BE, até lhe ter sido imposta pela AR.

A viragem à direita de todos os partidos que a direita designa de democráticos permitiu o desaparecimento do CDS, agora ressuscitado e em respiração assistida por interesse eleitoral, e a criação de um partido fascista que germinou no interior do PSD.

O que está a acontecer sob a égide do PR e com a habilidade de Montenegro, embora com enormes erros de casting no Governo, é uma feroz avidez de confiscar os lugares de decisão para prosseguir a agenda neoliberal de Passos Coelho que António Costa interrompeu com ajuda do PCP e BE.

A alegada recusa de alianças do PSD com o Chega deve-se a circunstâncias eleitorais e arrufos de namorados, depois da traição do último à aliança para a eleição do presidente da AR. É, aliás, a união de facto que existe nos Açores e na Madeira e que recentemente funcionou para evitar a ida do ministro Pinto Luz à AR a esclarecer os negócios da TAP conduzidos por ele próprio sob as ordens de Passos Coelho e Maria Luís.

Atualmente, a direita, quando é obrigada a escolher, prefere a extrema-direita a qualquer esquerda. Aqui, como em França. As aparências servem apenas para a chantagem ao PS.

Com PR, PM, PGR, esta e a próxima, PAR, os media e quase todo o aparelho de Estado, a direita regressará sempre ao poder após novas eleições, acompanhada pelo Chega, com ou sem Montenegro, como vem acontecendo em toda a Europa.

É claro que, entretanto, já esquecido o golpe que conduziu a este Governo, é útil colocar o ónus da ingovernabilidade no PS. Depois, escrita a História pelos vencedores, até Marcelo ficará como estadista e, por mérito próprio, como notável estratego.


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